Setembro Verde: um chamado para doação de órgãos

Por Rafael Battaglia

O mês de setembro é um pouco mais colorido do que se imagina. Além do Setembro Amarelo, campanha de alerta à população sobre a realidade do suicídio, há, desde 2014, o Setembro Verde, criado para ressaltar o valor de se tornar um doador de órgãos e tecidos. A data foi instituída a partir da lei  nº 15.643, do deputado estadual Gilmaci Santos (PRB-SP), e o verde foi escolhido por ser o símbolo mundial deste tipo de doação.

O período do ano para esta ação também não foi decidido por acaso: no dia 27 deste mês é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a data é uma homenagem os santos católicos São Cosme e São Damião, considerados os padroeiros dos transplantes. Ela foi criada em 1997, quando aconteceu a primeira campanha de conscientização a nível nacional para falar sobre o tema.

Dentro da USP

Em Ribeirão Preto, a Liga de Transplantes de Órgãos e Tecidos (LiTOT) da Escola de Enfermagem (EERP) realiza, desde 2009, atividades de extensão com a comunidade para alertar sobre a importância do tema. “ O grande objetivo destas atividades é aumentar o número de doadores para transplantes”, explica Karina dal Sasso Mendes, enfermeira tutora da liga e uma das responsáveis pela ação. De acordo com ela, há uma fila de espera de aproximadamente 33 mil pacientes com doenças irreversíveis cuja única solução é o transplante. “O número de doadores de órgãos efetivos está muito aquém do necessário. A cada 1 milhão de habitantes, 16,2 doadores são efetivados para o transplante”, acrescenta.

A LiTOT é formada por alunos de graduação da EERP e conta com docentes e enfermeiros tutores que auxiliam na organização das atividades. As ações promovidas por ela têm o apoio de outras instituições de Ribeirão, como a Organização de Procura de Órgãos, do Banco de Olhos, o Banco de Tecidos Humanos e o Centro de Transplantes de Órgãos Sólidos do Hospital das Clínicas da FMRP-USP. Além destas, o hemocentro da cidade ajuda no cadastro de possíveis doadores de medula óssea.

Neste ano, as atividades do Setembro Verde de lá incluem  uma série de palestras e debates, uma exibição de filme e um passeio ciclístico noturno, além de ações de conscientização em alguns pontos da cidade. Haverá também um encontro entre pacientes que aguardam o transplante, pacientes já transplantados e familiares de doadores, realizado todos os anos pela liga. “É uma atividade muito emocionante, pois são os relatos reais de pessoas que estão vivendo este processo”, diz Karina.

A doação no Brasil

O cenário brasileiro é positivo. Segundo o último relatório da ABTO, a taxa de doadores efetivos aumentou em 11,8% no primeiro semestre de 2017 e, na última década, o número de transplantes também cresceu (veja o gráfico).

(Arte: Fredy Alexandrakis)

No entanto, um dado preocupante é taxa de recusa da família. No Brasil, a única maneira de se tornar um doador é manifestando esse desejo aos seus familiares, que vão autorizar ou não o uso dos órgãos e tecidos para transplante. Ainda segundo o relatório, entre janeiro e junho deste ano, 43% das mais de 5 mil notificações de possíveis doadores foi negada por parentes.

“Nossa campanha tem um forte apelo para que as pessoas conversem sobre isso em suas famílias e verbalizem o desejo ou não de doarem órgãos e tecidos para transplantes”, explica Karina, ressaltando um os objetivos principais da campanha da liga de Ribeirão Preto – e de todas as outras ações ao redor do Brasil. “Um doador pode salvar mais de oito vidas. É por isso que o Setembro Verde é tão importante”.