Vídeo feminista da Poli será mostrado na ONU

Alunas dos CAs arrecadam dinheiro até o dia 20 de setembro para que possam fazer a viagem 

Por Ana Carolina Harada 

Como  denúncia da desigualdade de gênero na Universidade, alunas, professoras e funcionárias da Escola Politécnica da USP se uniram para gravar um vídeo da canção Survivor, de Clarice Falcão, em 2016. O conteúdo viralizou e chamou atenção para o machismo que permeia o mundo acadêmico. Este ano, um grupo de doze meninas responsáveis pelo vídeo cada uma representante de um Centro Acadêmico diferente da Poli , recebeu, por intermédio da Reitoria da USP, o convite das Nações Unidas (ONU) para apresentar o projeto numa conferência que acontecerá em outubro, em Nova York.

Porém, um novo desafio se coloca agora: arrecadar a quantia necessária para que todas possam fazer a viagem, já que a USP só irá arcar com as despesas de uma das alunas. Para conseguir o dinheiro, elas  organizaram uma “vaquinha” – que vai até o dia 20 de setembro –, uma festa e vendas de alimentos nas faculdades. Quem quiser contribuir com o financiamento coletivo pode acessar o site www.vakinha.com.br/vaquinha/survivor-politecnicas-na-onu e receberá, como recompensa, material produzido durante o evento.

A versão do vídeo Survivor feita na Escola Politécnica fazia parte de uma série de desafios propostos no início do ano letivo para a integração dos calouros com os veteranos, o Integra Poli, organizado pelos Centros Acadêmicos. Cansadas de situações machistas banalizadas em suas rotinas, as alunas do CA da Engenharia Civil decidiram propor um desafio diferente. “Existe muito machismo entre os alunos, entre os professores: ‘brincadeiras’ que não são brincadeiras”, diz Isabelle Turri, uma das alunas convidadas pela ONU. Jogos e brincadeiras que incluíam desde concursos de belezas para calouras até lavar carros com blusa branca. Por esses motivos, surgiu a ideia de colocar uma “dublagem” de Survivor como um dos desafios do Integra. As alunas conseguiram apoio de funcionárias e de professoras que se identificaram com a mensagem.

Na ONU, as politécnicas querem representar não só a USP mas todas as universitárias que sofrem com o machismo. “É uma oportunidade única ir para Nova York, mas queremos trazer algo de volta para todos, construir algo além da nossa universidade”, afirma Isabelle. Apesar da dificuldade em quantificar os dados, as alunas acreditam que o vídeo ajudou a expor os abusos e mostrar que as mulheres têm força e voz.

Segundo o último Anuário Estatístico da USP, publicado em 2015, ainda há menos alunas matriculadas no primeiro semestre da graduação da USP do que alunos – cerca de 2,3 pontos percentuais a menos –, cenário que se repete nas mesmas proporções em relação aos cargos técnico-administrativos. Para docentes, a discrepância aumenta: somente 37,96% são professoras. Por conta desses números, as meninas dos CAs acreditam que seja  fundamental que a mensagem de Survivor atinja mais pessoas do que as 361 mil visualizações da versão no Youtube.