Evento discute importância da divulgação científica

Seminário internacional levantou boas iniciativas para uma difusão mais sólida de pesquisas

“A divulgação científica deve entreter as pessoas, ser divertida de ver, motivadora”, afirma Schermer (Foto: Pedro Graminha)

Por Pedro Graminha

O I Seminário Internacional Ciência e Sociedade, organizado pela revista Scientific American Brasil, no dia 3 de Outubro, reuniu pesquisadores da USP e de outras universidades, além de profissionais da mídia, para debater a importância da divulgação científica para a população.

Um dos convidados do evento foi o pesquisador e psicólogo norte-americano Michael Shermer, colunista da revista Scientific American e fundador da Skeptic Society “Nossa revista é especializada em paranormalidade, assuntos sobrenaturais, medicina alternativa, enfim, todos os tipos de fronteiras da ciência”, explica Shermer. A importância de iniciativas como a Skeptic é estabelecer debates mais sólidos e interessantes entre cientistas e sociedade.“[A divulgação científica] deve entreter as pessoas, ser divertida de ver, motivadora (…) É claro que você precisa ser cientificamente preciso, mas é preciso cativar as pessoas. Além disso, tem que ter uma mensagem profunda”, aponta.

Segundo dados da pesquisa realizada em 2015 pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério de Ciência e Tecnologia (CGEE), 26% dos brasileiros declarou possuir grande interesse por ciência e tecnologia, número relativamente grande, comparado ao interesse por assuntos como política (10%). Em compensação, a pesquisa evidenciou que o acesso à informação é muito baixo: 72% disse nunca ler sobre o assunto em livros. O maior acesso dos brasileiros à área está na televisão, no qual 21% declarou sempre ter acesso ao conteúdo científico.

Num contexto em que debates polêmicos como a terra plana e o negacionismo climático encontram terreno fértil nas redes sociais, a divulgação científica de qualidade é ferramenta necessária para fornecer informações corretas à sociedade. “Temos que ensinar o pensamento crítico, ensinar as pessoas sobre como pensar sobre essas afirmações ao invés do que pensar sobre elas”, explica Shermer.

Alternativas no Brasil

Natália Pasternak, ex-aluna de Ciências Biológicas da USP é responsável por iniciativas de comunicação científica como o blog Café na Bancada e o Cientistas Explicam, que leva palestras e oficinas a escolas e museus de forma didática. “Muitas pessoas, incluindo crianças e jovens, não sabem quem é o cientista e o que ele faz para a sociedade”, explica.

Outra iniciativa coordenada por Natália é o Pint of Science, evento surgido na Inglaterra que faz contato entre cientistas e população de uma forma acessível, em bares, por exemplo.“Existe uma demanda reprimida do público por ciência. A população quer saber. O cientista quer falar. Só faltava criar um canal”,conta.

Mesmo assim, a falta de educação básica por parte da população ainda é uma realidade que precisa ser enfrentada. Para os cientistas, é especialmente importante sair do ambiente acadêmico. “Precisamos falar com o público onde ele está e não esperar que venha até nós. Fazemos parte da sociedade e não podemos viver à margem dela (…) Estamos acostumados a valorizar somente a pesquisa, mas o que garante a sobrevivência da pesquisa é a divulgação.”, finaliza.