Mídias fazem ponte entre academia e sociedade

Por Victória Martins

A universidade pública, apoiada, em sua essência, na necessidade de gerar e ampliar conhecimento, tem a “obrigação de compartilhar o que produz com o resto da sociedade”, conforme pontua Luiza Caires, editora de Ciências do Jornal da USP, não só pela necessidade de incentivar a alfabetização científica, como também por uma “questão de sobrevivência”. “É preciso mostrar que há boas razões para o país investir em ciência e que o que produzimos na universidade é relevante para a vida das pessoas – ainda que nem sempre de maneira direta ou no curto prazo”, afirma.

Neste sentido, a divulgação científica por parte de instituições de pesquisa se faz cada vez mais importante. Não é diferente com a USP: atualmente, diversas mídias trabalham no sentido de difundir entre a comunidade uspiana e para além dos muros da Universidade a ciência produzida e as descobertas feitas aqui.

A Superintendência de Comunicação Social (SCS), por exemplo, tem na divulgação científica, segundo Luiza, “um de seus principais eixos de atuação”, por meio da Rádio USP, do Revistas USP e do próprio Jornal da USP, que se tornou diário e exclusivamente on-line no último ano, entre outras mídias. “Buscamos estar sempre atualizados para compartilhar o que de melhor os cientistas da USP estão fazendo”, comenta a editora.

Outro exemplo é o Núcleo de Divulgação Científica, externo à SCS, que foi criado em 2015, na perspectiva de trazer para a Universidade o vídeo como formato de difusão científica. De acordo com Mônica Teixeira, coordenadora do Núcleo, essa mídia “nasceu principalmente para fazer a divulgação da produção dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da USP” – no total, 11 centros de fronteira do conhecimento financiados a longo prazo pela Fapesp – porém, é pautada ainda “pelo que é publicado em revistas científicas internacionais”, o que permite que eles tenham “um critério de qualidade”. A produção do Núcleo é disponibilizada na página do Facebook Ciência USP e nos canais do Youtube Canal USP  e Ciência USP.

Um outro veículo de importante expressão na divulgação científica da produção da Universidade é a Agência Universitária de Notícias (AUN), vinculada ao curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Criada em 1967, com o intuito de produzir conteúdo jornalístico sobre a ciência local e de proporcionar uma formação prática aos alunos, ela é um dos laboratórios do curso, no qual, atualmente, cada aluno se responsabiliza pela cobertura da produção científica de um instituto ou faculdade dos campi de São Paulo, de acordo com matéria publicada no site da unidade. “A AUN tem um papel fundamental nesse processo de divulgação da ciência, do conhecimento e da cultura porque o nosso material chega a milhares de leitores”, afirma André Chaves, um dos docentes responsáveis pela disciplina. “Desde 2013, quando passamos por uma série de renovações no site, já tivemos mais de um milhão e meio de acessos na nossa home”.

Ainda que os três exemplos já mencionados, bem como outras mídias, como os sites de cada unidade, se dediquem a realizar uma divulgação abrangente daquilo que é produzido na Universidade, Luiza revela que “é muito difícil cobrir toda pesquisa relevante que é feita aqui, pensando que estamos em uma universidade de proporções gigantes”, algo com o qual Mônica concorda.

Mesmo assim, o trabalho realizado por esses veículos têm ocupado espaço importante, deixado pela grande imprensa, de aumentar a difusão científica. “A imprensa em geral olha pouco para a produção nacional, porque a internacional vem mais fácil para eles. Também, ela está atrás de assuntos que sejam efetivamente notícia, e a ciência brasileira produz coisas de menor impacto, do ponto de vista jornalístico”, comenta Mônica. “Mas nós [do Núcleo] viemos suprir um lugar e estamos conseguindo chamar pessoas que não sabem o que é ciência”.

Ambas as jornalistas concordam que realizar divulgação da ciência é essencial no sentido de informar sobre uma parte importante da “cultura contemporânea”, como afirma Mônica. Para elas, porém, esta difusão deve ser feita sempre por meio de uma relação de respeito com o público, ou seja, encarando-o como “perfeitamente capaz de entender” e “transmitindo a vontade de saber, o amor e fascínio pela descoberta, sem sermos burocráticos”, comenta a coordenadora do Núcleo. Já André afirma que “o ponto central do sucesso” nesse processo de informação “é o tratamento da linguagem”, sendo que o desafio para os repórteres da área é “pegar aquela linguagem específica e conseguir colocá-la dentro de uma mensagem que seja compreensível pelo homem que não lida diretamente com ciência”.

“Devemos entregar conteúdos de maneira atraente e fácil de compreender, mas sem sermos empobrecedores,” pontua Luiza. “A ciência tem o potencial de despertar curiosidade, gerar encanto e vontade de saber mais e o acesso à informação pode tornar a vida das pessoas melhor. Cabe a nós jornalistas dar um empurrãozinho para que isso aconteça”.