Mulheres remam contra o câncer de mama

Projeto Remama usa o esporte para melhorar qualidade de vida de mulheres em recuperação

(Foto: Rafael Bataglia)

Por Rafael Bataglia

Uma marca cor-de-rosa chama a atenção nas manhãs de terça e quinta na Raia Olímpica da Cidade Universitária. São as atletas do Remama, projeto que, desde 2013, reúne mulheres que passaram pelo tratamento contra o câncer de mama para praticar remo. A iniciativa nasceu da parceria entre o Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) com o Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) e visa reabilitar as pacientes por meio do esporte.

O principal objetivo do Remama é melhorar a qualidade de vida das mulheres, devolvendo a elas o condicionamento físico e a autoestima afetadas pelo câncer. “Quando você as tira do hospital e as coloca na raia olímpica, elas saem da condição de paciente para a de aluna”, diz o professor José Carlos Farah, vice-diretor do Cepeusp e responsável pela Raia e pelas aulas de remo. “O salto na qualidade de vida é algo impressionante. Elas têm um apego à vida que serve de exemplo para nós”, completa.

A origem do projeto vem da professora Cristina May Moran de Brito, do Icesp, umas das coordenadoras do Remana, que se inspirou em um programa que conheceu no Canadá. Atualmente, o grupo é formado por cerca de vinte mulheres. Todas elas já passaram pelos processos de tratamento da doença, como a quimioterapia, e estão em fase de reabilitação. Após uma triagem e preparação inicial ainda no Instituto, as pacientes podem começar os treinos na água, que acontecem duas vezes por semana, das oito às nove da manhã, sob supervisão dos profissionais do Cepeusp.

O impacto do esporte

Em 2017, outra instituição entrou na parceria do projeto. A Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) irá realizar um estudo sobre as diferenças na reabilitação das participantes do Remama em relação às outras pacientes do Icesp que seguiram caminhos diferentes depois do tratamento.

“A ideia é revelar quais são os benefícios da prática esportiva para sobreviventes do câncer de mama”, disse a estudante Rosangela Fiedler, uma das assistentes da pesquisa. No dia em que a reportagem do JC acompanhou o treino das meninas do Remama, ela ficou dentro do barco, coletando dados sobre a percepção do esforço das atletas. “Eu fui muito bem acolhida aqui. A sensação é de que tudo isso virou uma grande família”.

A professora da EEFE Patrícia Brum é quem irá coordenar a pesquisa. Ela ressalta a importância do esporte para quem já enfrentou a doença. “Um dos problemas do tratamento do câncer de mama é que os quimioterápicos são muito tóxicos para o coração.”, afirma. Segundo ela, mulheres que antes não tinham nenhum problema ou fator de risco podem vir a ter algum tipo de complicação cardíaca, que podem aparecer de cinco a 10 anos depois da quimioterapia. “A atividade física ou o treinamento físico aeróbio são muito bons, pois são capazes de reduzir a pressão arterial do corpo”, acrescenta.

Sobre se sentir capaz

(Foto: Camila Freitas)

Por Ian Alves

Janeiro de 2013 e junho de 2014. Esses foram os meses em que Gilmere Valões, 53, fez suas duas cirurgias na luta contra o câncer. Técnica Administrativa da USP, Gilmere conta que enfrentou o câncer na mama e na tireóide. “Fiz quimioterapia, radioterapia, iodoterapia, mas agora estou só no controle”.

Uma das participantes do Remama conversou com o Jornal do Campus sobre a importância do projeto para sua vida depois do câncer. Para ela, os impactos vão muito além da questão física: “Adorei, porque pra nossa autoestima é excelente. Só o fato de você se sentir capaz de fazer algo, e não ficar completamente entregue porque teve uma doença grave e tal, fez toda a diferença. Faz toda a diferença”.  

Gilmere também reforça muito o suporte que os treinadores dão às alunas, reforçandoafirmando que eles as ajudam dentro e fora do barco. No Remama há 5 meses, a participante, apesar de estar um pouco afastada do projeto por conta de problemas no braço, fala sobre os treinos com muita felicidade: “eles são muito alegres, são muito bons. E estamos sempre aí: no Cepeusp, todas as terças e quintas-feiras, das 8h às 9h”.