NEV-USP, G1 e FBSP lançam Monitor da Violência

Em uma semana de agosto, foram registradas 1.195 mortes violentas em diversos estados do Brasil

(Arte: Mariana Rudzinski)

Por Victória Martins

O Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP), em parceria com o portal de notícias G1 e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública lançou, no último dia 25 de setembro, a plataforma Monitor da Violência, onde encontra-se o levantamento completo de todas as mortes violentas registradas no Brasil durante uma semana, de 21 a 27 de agosto passado. Ao todo, foram 1.195 vítimas, entre homicídios, latrocínios, feminicídios, mortes por intervenção policial e suicídios, além de casos sem esclarecimento até o momento – crimes que notoriamente ficam esquecidos.

Para fazer o levantamento, o G1 mobilizou 230 repórteres de todas as sucursais do país para apurarem e publicarem notícias em tempo real de cada uma das mortes, durante a semana analisada e em um período posterior, de cerca de três semanas. “A ideia era dar um rosto e contar um pouco da história dos casos por trás dos números,” comenta Bruno Paes Manso, pós-doutorando em “Homicídios, confiança institucional e legitimidade” do NEV e um dos responsáveis pelo projeto. Todas as reportagens foram disponibilizadas em uma página especial do portal.

“Foi uma parceria que juntou um grande banco de dados sobre segurança pública que vem sendo produzido pelo Fórum, com o jornalismo, que conta histórias sobre isso, e as ciências humanas, que tentam pensar em causas, contextos e relações causais que existem”, explica Bruno. De acordo com ele, a ideia inicial era pensar em formas de unir jornalismo e ciências humanas, de modo “a qualificar e direcionar um pouco mais” as notícias e os debates sobre violência e direitos humanos. Disso, surgiu a ideia de fazer o Monitor, “para chamar atenção das autoridades e pressioná-las para que esse problema vire prioridade nas agendas de políticas públicas”.

Após o processamento dos dados, o NEV e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública desenvolveram interpretações e análises para entender o cenário que os números e histórias revelavam, disponibilizadas em textos na página especial do G1. Bruno comenta que o Núcleo identificou, primeiramente, grande quantidade de casos com características de execução, crimes frios e calculados que mostram “uma crença compartilhada de que o assassinato pode ser um instrumento para resolver problemas” e abrem espaço para “o surgimento de certas tiranias privadas que estão disputando o poder e tentando impor sua vontade pela violência”.

Além disso, o pesquisador também revela que o NEV percebeu dois grupos de estados com maiores problemas no enfrentamento à violência: o primeiro, no qual aumentaram os conflitos entre facções rivais, especialmente após rebeliões prisionais, como Rio Grande do Norte, Amazonas e Ceará e o segundo, cujas políticas de segurança bem-sucedidas foram  desmontadas, como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco. O texto do Fórum, por sua vez, nota uma postura das autoridades e da sociedade de mitificar as mortes violentas.

Bruno revela que o Monitor da Violência é uma primeira parte de um projeto de longo prazo, o qual pretende “buscar uma forma de engajar as pessoas nesse produto jornalístico” e pressionar autoridades. Ele afirma que os próximos passos já estão em planejamento e que as três instituições gostariam de chegar a meados de 2018 “com bastante força”, por conta das eleições. “Queremos ver como conseguimos pautar esse debate nos estados”, revela.