Programa digital lista salários acima do teto na USP

Código foi desenvolvido por alunos da Fatec e publicado na internet

Por Breno Deolindo

Dois alunos da Fatec de São José dos Campos desenvolveram um código de programação que lista todos os servidores da Universidade de São Paulo com rendimentos acima do teto estadual. Orientados pelo professor Fernando Masanori, Tiago Henrique da Cruz Pereira e João Felipe de Moraes Borges foram responsáveis pela criação do programa, nomeado de “Super Salários USP”.

Pereira e Borges, que estão no primeiro ano da graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, receberam a proposta de um trabalho acadêmico com tema livre, e se aventuraram nesse aspecto polêmico da USP. O código foi escrito em Python, linguagem de programação que faz parte da ementa de muitas disciplinas universitárias.

O “Super Salários USP” está disponível para download e edição no GitHub, plataforma on-line utilizada por programadores para divulgar seu trabalho e receber sugestões de outros colegas para aprimorar seu código. Apesar de ser concebido sem muitas ambições e numa faculdade sem ligações diretas com a USP, o programa atingiu pessoas da Universidade e do país inteiro. É possível ver programadores do Rio Grande do Norte, Paraná e Maranhão interagindo na postagem de Fernando Masanori no GitHub.

O código elaborado por Pereira e Borges pode ser acessado na página de Masanori do GitHub, mas ainda não possui versão acessível a indivíduos sem conhecimento de Python. Um dos usuários do site, Felippe Regazio, juntamente de seus colegas, criou a programação necessária para transformá-lo em um site simples de ser usado, mas ele ainda não foi colocado no ar.

(Arte: Mariana Rudzinski)

Os dados utilizados, obtidos no próprio Portal de Transparência da Universidade, contabilizam mais de 400 nomes que ultrapassam os R$ 21.631,05 estipulados pelo estado de São Paulo como limite salarial.  Essa cifra corresponde ao salário do governador Geraldo Alckmin e, de acordo com a lei, nenhum servidor público do estado pode receber mais do que isso.

Masanori explica que o código precisa de uma mudança de título, trocando “Salários” por “Valores Brutos”. Essa sugestão é justificada por algumas nuances: “no valor bruto pode ter uma indenização trabalhista, por exemplo. Neste caso, em um mês, o valor bruto é alto, mas nos outros não”.

Há vários outros fatores que também aumentam o salário de um servidor, como o acúmulo de cargos — quando um docente também é diretor da Faculdade, por exemplo. Com os promotores de Justiça, por outro lado, o teto aplicado é diferente dos outros funcionários: o valor limite de R$30.471.11 é correspondente a 90,25% do salário de um Ministro do Supremo Tribunal Federal (R$ 33.763,00).

Sabendo dessas exceções, Masanori continua com seu questionamento: “o que não entendo são servidores técnicos que ganham tanto”. A Reitoria afirma que, nessas situações, o valor excedente é automaticamente cortado pelo sistema e nunca chega nas mãos do servidor, mantendo seu ganho mensal dentro dos limites impostos legalmente, esclarecendo, portanto, as suspeitas do professor.