Rádio USP completa 40 anos de existência

Programação alternativa, com experimentação e MPB, é característica desde o início

Por Beatriz Arruda

Há 40 anos, em 11 de outubro de 1977, nascia a Rádio USP. Em todo esse período, passou por diversas mudanças – de espaço, funcionários, estrutura e tecnologia –, mas a sua essência permaneceu a mesma: um veículo reservado para inovação e no qual se pode fugir do lugar comum em que se encontram muitas emissoras, principalmente por ser uma rádio educativa, e não comercial.  

Quando entrou na direção da Rádio em 1983, Mário Fanucchi, radialista e professor da ECA, encontrou um cenário bem diferente do atual. Sediada no Pico do Jaraguá, todos os dias, às 6h da manhã, um carro da Universidade subia o pico com um técnico, um locutor e um cesto com discos para gravar a programação a ser reproduzida. “A situação era difícil. A localização e a falta de um estúdio adequado prejudicava muito”. Isso não impediu que ele fosse um dos responsáveis por fazer com que a Rádio USP se diferenciasse das demais e que tivesse uma programação alternativa, sempre na frequência 93,7. Programas de cunho cultural, infantil e, até mesmo, de informática, foram criados. Para ele, era fundamental “aproveitar a força do veículo, que existe até hoje, para realizar inovações, experiências e criar uma tradição no campo”, como afirma em depoimento prestado à Rádio USP especialmente para a ocasião.   

Com esse mesmo princípio, Luiz Fernando Santoro assumiu a direção entre 1985 e 1987, já com uma rádio diferenciada e de prestígio, mas ainda gravada. Seus esforços se voltaram para dinamizar os programas e colocar a Rádio USP ao vivo. “A rádio estava um pouco acomodada. Apesar dos programas inteligentes e interessantes, era uma programação inteira gravada”. Com conteúdo musical voltado para a MPB, foi na sua gestão também que originou-se a orientação de não repetir a mesma música no mesmo mês. “Sempre priorizamos tocar o lado b do disco. As gravadoras impunham que as faixas dois e quatro do disco deveriam ser tocadas. Nós sempre tocávamos a cinco ou a sete. Esse era o nosso diferencial e continua sendo”, afirma Dagoberto Alves, operador da Rádio USP há mais de 20 anos.

Dagoberto Alves (Foto: Beatriz Arruda)

Hoje

Localizada no antigo Clube dos Funcionários – Rua do Matão, 1578 –, a programação ainda mescla MPB, inserções jornalísticas, colunistas e programas diversos. No entanto, o jornalista Fábio Rubira afirma que a dinamicidade característica da rádio foi reduzida com a saída de alguns funcionários depois do Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV), principalmente aqueles que cuidavam da parte técnica e permitiam a execução de maior quantidade de programas. “O coração da rádio não é o jornalismo, nem a discoteca. Nenhum desses setores trabalha se não tiver operação técnica”.

Santoro também observa uma Rádio USP mais comportada, que já não ousa como antes. Uma rádio universitária, segundo ele, precisa ter uma oxigenação da programação e não deve estar tão a serviço da Universidade, mas sim ser um lugar para dar espaço às vozes que não são ouvidas nos veículos tradicionais. “A Rádio precisa sim estar atrelada aos interesses da Universidade, mas a USP precisa entender que ela não é a mídia indicada para divulgar tudo o que se faz aqui dentro”. Além disso, para o ex-diretor, também existe o compromisso com a sociedade, que é muito maior do que apenas exaltar os feitos da USP.

Mesmo com as dificuldades, mais antigas ou recentes, a Rádio USP não saiu do ar nem um único dia, ressaltando o seu importante papel de prestar um serviço à população e retribuir, de alguma maneira, o dinheiro que nela é investido, como afirma Dagoberto Alves. “Fico muito feliz da rádio ter atingido os 40 anos porque sempre foi uma história de batalha e superação. Nunca foi fácil”, completa Fábio Rubira.