Telescópio brasileiro T80-Sul tem papel importante em descoberta de ondas gravitacionais

Por Matheus Lopes Cardoso

O telescópio brasileiro T80-Sul, localizado no Observatório Internacional de Cerro Tololo, no Chile, teve atuação importante no estudo da colisão das estrelas de nêutrons. Ele foi capaz de capturar imagens precisas depois do evento, devido ao fato que o sistema se encontrava na constelação de Hydra, que faz parte do céu no qual o telescópio é capaz de enxergar. Além de Claudia Mendes de Oliveira, outros professores do IAG compõem a equipe do telescópio T80-Sul, entre eles, Laerte Sodré Jr., Rodrigo Nemmen e Alberto Molino.

Foto: IAG-USP/ Reprodução

Embora a detecção das ondas gravitacionais tenha ocorrido em agosto pelos equipamentos LIGO e VIRGO, em solo americano e órbita europeia, respectivamente, foi necessária também a ação internacional de vários observatórios pelo mundo em razão da formação de uma kilonova – fusão de duas estrelas nêutrons –, que emitiu raios gamas e ondas eletromagnéticas. Dentre os 70 observatórios pelo mundo que captaram o fenômeno, o T80-Sul também teve participação importante ao fazer uma varredura autônoma da região do céu onde se encontra Hydra, e de seus componentes, entre eles o desenho da câmara feito por Rene Laporte, que permite um estudo mais aprofundado das ondas recebidas, algo que, por exemplo, permite verificar a criação de novos elementos durante o fenômeno e a composição das estrelas envolvidas.


Pedro Dias, diretor do IAG, ainda ressaltou a importância da cooperação entre diversos países para o registro do fenômeno. “Eventos desse porte não estão ao alcance nem mesmo de países ricos. É inconcebível, hoje em dia, que um único país, uma única instituição, seja capaz de montar toda a infraestrutura para medir perturbações do porte do que acabamos de presenciar”, afirma. Ele também disse que, no momento, é difícil dimensionar o impacto, mas tem certeza de que é um episódio único e que todo o desenvolvimento tecnológico por trás será revertido para outras áreas da ciência.

Observatório Internacional de Cerro Tololo, no Chile – onde se localiza o T80-Sul. Foto: IAG-USP/Reprodução

O aparelho se localiza no   Chile devido às boas condições que a região tem para os estudos astronômicos, como a menor atmosfera e a grande altitude. Ele é mantido pelo Observatório Nacional, pelas Universidade Federais de Santa Catarina e de Sergipe e a USP, e é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A participação do Brasil na astronomia deve continuar, pois segundo o astrofísico do IAG Alberto Molino a importância do T80-Sul é grande. “Primeiro, é um telescópio muito rápido, então temos a capacidade de apontá-lo para qualquer ponto. Segundo, seu sistema de filtro é único, a informação fotométrica que o telescópio pode propor é muito importante. Terceiro, as medidas das galáxias que ele dá são mais precisas do que outros telescópios fotométricos, então vamos ter a capacidade de não só detectar uma galáxia mas saber a que distância ela está”. Ele continua explicando que a região do hemisfério norte também está ao alcance brasileiro através do telescópio irmão do T80-Sul, o T80-Norte, localizado na Espanha. E acrescenta “O Brasil também está participando de outro projeto no hemisfério norte, que é parecido, usando fotometria multifrequência para fazer uma estimação muito precisa das galáxias, então isso significa que no futuro quando acontecer um evento de ondas gravitacionais o Brasil, através desse programa, terá um mapa muito preciso de todas as galáxias do céu”.