Por Breno Deolindo

Talvez o título desta notícia não faça muito sentido para você, mas a Representatividade dos surdos no Brasil é um tema que vem ganhando cada vez mais atenção. Recentemente, Natalia Frazão, de 32 anos, foi a primeira aluna da Universidade de São Paulo a defender sua tese de mestrado inteiramente em Libras (Linguagem Brasileira de Sinais).

Sua dissertação, defendida no campus de Ribeirão Preto da USP, aborda as lutas sociais estabelecidas pela Associação dos Surdos do Estado de São Paulo. Com duas intérpretes responsáveis por traduzir as falas para a banca e vice-versa, a defesa durou quatro horas e culminou na condecoração da aluna com o título de mestra em Educação.

(Foto: Reprodução/EPTV)

Natalia é completamente surda desde seu nascimento: sua mãe contraiu rubéola durante a gravidez e a falta de informações preventivas durante a década de 80 impediu que um tratamento adequado fosse feito. Apesar de o português sempre ter sido sua segunda língua, ela não teve medo de enfrentar as dificuldades. “Nada me abalou e fui viver a vida com tantos êxitos quantos obstáculos como outros milhões de surdos brasileiros”.

Estudando na Escola Municipal de Surdos em São Paulo, ela compreendeu cada vez mais o que significava fazer parte dessa minoria linguística. “Vi, nos anos de 1990 e 2000, tantas histórias dos movimentos surdos pelos direitos à educação, à língua e à vida digna”. Sua educação certamente não foi fácil, mas ela diz apenas ter seguido o mesmo caminho de outros milhões de “invisíveis” para alcançar o mestrado.

Natalia diz que esses movimentos foram, aos poucos, conquistando seu espaço na sociedade brasileira: o reconhecimento da Libras por lei em 2002, junto da obrigatoriedade do ensino da língua em cursos de formação de professores, exemplificam as suas vitórias.

O ápice do reconhecimento nacional, todavia, veio no mês passado com a redação do ENEM: “O desafio da formação educacional de surdos” foi o tema escolhido pelo INEP para a dissertação dos candidatos, sempre uma parte do exame que chama muita atenção dos professores e alunos.

Em levantamento feito pela Folha de São Paulo, a evasão de surdos da escola apresenta números preocupantes. Dentre todos os alunos surdos que tinham até 11 anos de idade em 2011, 15% havia deixado os estudos até o final de 2016 – número alto comparado com os 9% dos estudantes com audição preservada.

Em 2014, a estudante Natália Carla, também surda, teve sua história viralizada por “não ter entendido nada” na maior prova do país. Ela foi acompanhada por duas profissionais que traduziam apenas palavras. Como a Libras possui uma estruturação diferente do português – sem conectivos e conjugações verbais, por exemplo -, ela atingiu uma pontuação baixa e não foi aprovada em nenhuma faculdade. O descaso com sua dificuldade à época, quando colocado lado a lado com o tema da última redação, já mostra uma evolução no tratamento dado aos surdos no Brasil.

Para Natalia Frazão, o Exame Nacional do Ensino Médio pode chamar ainda mais a atenção para a minoria da qual faz parte: “Tudo isso está tirando o véu de ignorância da sociedade brasileira para despertar a curiosidade, apagar os estereótipos e aceitar os surdos como negros, índios, LGBT, imigrantes e outras minorias”.