Ausência de professores obriga alunos a trancar matéria

(Arte: Mariana Rudzinski)

Falta de docentes e contratação de temporários atrapalha formação estudantil  Relações Públicas

Por Giovanna Querido e Rafael Castino

Durante o segundo semestre letivo deste ano, alunos do cursos de Relações Públicas na Escola de Comunicações e Artes (ECA) tiveram de trancar a disciplina de Identidade Corporativa e Cultura Organizacional por conta da falta de docentes para ministrar as aulas.  Matéria obrigatória aos estudantes do primeiro ano, a ausência de professores responsáveis reflete em um possível atraso para formação no período ideal estimado na graduação.

Segundo Valéria Castro, coordenadora do curso de Relações Públicas na ECA, a disciplina utiliza de professores contratados há, no mínimo, quatro anos — período em que a professora assumiu a coordenadoria.

“Em 2017, após encerramento do ciclo do docente responsável pela matéria, a Reitoria abriu um novo processo seletivo para contratação. No entanto, a única candidata inscrita não correspondeu aos requisitos necessários para assumir o cargo”, explica.

Consciente da ausência de docente para disciplina, durante o início do semestre,  a própria coordenadora avisou os estudantes da situação que se estenderia aos meses seguintes. Sem um professor para dar notas, faltas e ministrar aulas, os alunos ficam impossibilitados de cursar a matéria. No entanto, como aponta Catarina Moreto, aluna de Relações Públicas, o alerta veio muito tarde.

“Quando nos avisaram que não iríamos ter essa disciplina, o período de matrículas já havia sido fechado, o que nos impossibilitou de ocupar a aula vaga com disciplinas optativas, por exemplo. Nosso curso só tem janelas a partir do terceiro ano, voltadas justamente ao curso das optativas”, explica. “Foi tudo muito corrido. Além de não conseguirmos aproveitar a janela, continuamos com essa incerteza de quando iremos cursar a disciplina que perdemos, e se isso irá afetar nosso período de formação.“

Como resposta aos pedidos da coordenação do curso, a Reitoria disse que contratará cerca de 150 novos docentes para o primeiro semestre do próximo ano, um destes destinado a ministrar a disciplina de Identidade Corporativa e Cultura Organizacional.   

 

Professores Temporários

O aumento dos professores temporários está diretamente relacionado à falta de professores no curso, pois muitos se aposentaram e não foram abertas novas vagas. Após assumir a reitoria da Universidade de São Paulo em 26 de dezembro de 2013, Marco Antônio Zago proibiu que novas contratações — de docentes e funcionários — fossem realizadas até 2018, com o argumento de que já estar excedendo a folha de pagamento da instituição. Segundo a lei complementar nº 152 da Constituição Federal, servidores públicos são aposentados compulsoriamente com a idade de 75 anos, caso dos docentes da Universidade.

Com esse déficit de professores, vagas para contratação de professores em regime temporário de trabalho parcial (RTP) foram abertas. Sob esse contrato, o profissional selecionado por concurso tem a obrigatoriedade de ser doutor. Sua dedicação é apenas restrita a lecionar, não criando nenhum vínculo com a universidade, já que o contrato inicial é de um ano, podendo ser renovado. Além disso, recebe cerca de 5 vezes menos que o salário médio de um professor, cerca de 1.500 reais, um terço do salário de um professor no ensino privado. Um exemplo recente é a vaga para professor temporário aberta em agosto com salário de R$1322,00 para jornada de 12 horas.

Diante de atual situação de professores temporários na Universidade de São Paulo, reitoria afirmou que está previsto contratação de 150 novos docentes para este ano.