Pesquisa descobre célula responsável pelo autismo

Através da polpa do dente de crianças com o transtorno, pesquisadoras descobrem que astrócitos estão diretamente ligados ao autismo

Por Camilla Freitas

Conforme o CDC (Centers for Diseases Control and Prevention), órgão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, calcula-se que no Brasil há em torno de 2 milhões de autistas. Esse transtorno foi pesquisado por Fabiele Russo em seu doutorado e resultou no artigo intitulado Modeling the interplay between neurons and astrocytes in autism using human induced pluripotent stem cells, publicado na Biological Psychiatry. Nele, a pesquisadora aponta um novo tipo de célula associada ao autismo, os astrócitos. “Já há um trabalho que relata o papel dos astrócitos para síndrome de Rett mas para autismo clássico é o primeiro no mundo”, conta Fabiele.

(Arte: Mariana Rudzinski)

Junto com a professora Patrícia Beltrão, ela descobriu que essa célula, que é responsável por sustentar e alimentar os neurônios, têm um papel muito importante no estudo do autismo uma vez que produz a citocina Interleucina 6 (IL-6), que já foi apontada como sendo uma das causas do transtorno em pessoas afetadas, porém não em modelos in vitro. “Poderia ser esse o motivo pelo qual os astrócitos estão doentes  [aumento do IL-6], é uma hipótese, mas precisamos investigar outras citocinas, tem milhares no nosso organismo. Mas já sabíamos que o IL-6 é uma citocina relacionada ao autismo.”

Fabiele Russo. (Foto: Ian Alves)

A pesquisa Toda a pesquisa foi realizada a partir da utilização de células-tronco retiradas da polpa do dente de crianças com autismo. O projeto Fada do Dente foi o responsável por coletar esses dentes. Ele, que é encabeçado pela professora Beltrão, hoje é o maior banco de células tronco de autismo no mundo. A escolha foi feita porque, de acordo com Beltrão, com essa célula seria possível realizar um processo denominado reprogramação celular, no qual células, nesse caso do sistema nervoso, são criadas em laboratório. “Nos pareceu uma fonte atrativa porque você não causa nenhuma dor para recolher esse material do paciente, ainda mais porque são crianças”, afirma a professora.

Os autistas utilizados na pesquisa são considerados autistas clássicos uma vez que manifestam todos os sintomas descritos para o transtorno, ou seja, dificuldade de fala e sociabilidade, comportamentos estereotipados (como o flap com as mãos) entre outros. “O grupo dos autistas clássicos é o mais grave, e quis começar por esse grupo.”

Patrícia Beltrão. (Foto: Ian Alves)

Cura do transtorno Para as pesquisadoras não existe uma cura para o autismo. O que as pesquisas feitas daqui para frente podem desvendar é o que causa os sintomas em cada grupo de indivíduos e, assim, utilizar medicamentos já aprovados para melhorar tais sintomas. “Conforme vamos conhecendo a individualidade genética dos pacientes, chegará um momento no qual o autismo será subdividido em várias síndromes”, afirma Russo. Ela completa dizendo que, atualmente, centenas de genes associados ao transtorno estão descritos em literatura, porém, muitos ainda não são conhecidos, o que dificulta na especialização dos grupos para, assim, se pensar em tratamento.