Vamos juntos!

Por André Siqueira

Arte: Fredy Alexandrakis

Há dois anos, entrávamos aqui motivados, com bloquinhos na mão, prontos para fazer o tal jornalismo. Mas, agora, o desânimo já tomou conta da maioria de nós. Frase similar foi dita por um de meus colegas de classe, durante uma das tradicionais reuniões realizadas para discutir cada edição do Jornal do Campus.

O clima envolvendo o suposto melhor curso de jornalismo do país é de incerteza, é verdade, mas a atual situação me motiva a falar sobre convivência, um dos aspectos mais valiosos de nosso período universitário.

Todos temos problemas. Gastar este precioso espaço para fazer deste um relato extremamente pessoal seria um desperdício. Mas não deixa de ser verdade que a imensurável energia que irradia pelo corpo ao ver nosso nome na lista dos aprovados foi matizada por uma série de fatores.

No primeiro semestre, possivelmente, você se empolgou com o nome das disciplinas e passou a imaginar um horizonte de possibilidades a se concretizar nos próximos anos. No meu caso, a necessidade de trabalhar, dado o momento difícil que minha família passava, a distância entre casa e campus, a mobilidade caótica e uma grade horária que foi revelando-se pouco exigente e quase nada animadora não me permitiram vivenciar nada daquilo que tanto disseram existir em uma universidade.

Para completar, houve uma greve, que tornou ainda mais ínfimo o meu tempo de  envolvimento com a graduação. Foi um período importante para discutir os rumos da Universidade. O que se torna ainda mais relevante levando em consideração o atual estado da USP. Gastos exorbitantes e pouco retorno àqueles que dela usufruem e a precarização das condições de trabalho são temas recorrentes em nossas pautas.

Mas, verdade seja dita, diante das circunstâncias, questionar veemente o porquê das coisas não parecia tão útil assim, já que o discurso, como reflexo da sociedade, era polarizado e bastante fútil.

No pós-greve, mais do mesmo. A grade horária tornou-se mais enxuta. Durante três dias da semana, aulas que duravam menos de duas horas. O tempo gasto no transporte público era maior que aquele dentro da sala.  

Foi, então, que as coisas se resolveram de uma forma caseira.O primeiro grande passo foi a conquista de um estágio dentro do próprio campus. As aulas continuaram acabando cedo, mas a necessidade de permanecer na universidade mudaram drasticamente o cenário.

Conhecer uma das relíquias da USP, o bandejão, após intermináveis oito meses, foi uma das melhores coisas que poderiam acontecer naquele ano. Para completar, voltei a fazer uma das coisas que mais me dá prazer nesta vida: jogar bola. Futebol de campo. Resenha. Pagode. Sensação de acolhimento. O maior tempo longe de casa se justificou e me deu verdadeiros amigos. Derivaram daí as melhores experiências.

Se você que me lê não teve a oportunidade de viajar com sua faculdade para um inter, faça isso o quanto antes. Dividir uma sala de aula, magicamente transformada em quarto de atletas – que até o final de um feriado terá condições insalubres -, provavelmente será um dos episódios mais tragicômicos em sua corrida pelo diploma e pela medalha de ouro.

O mar de colchões infláveis espalhados pelo chão atrapalha a locomoção. Como em um campo minado, o trajeto até a porta terá um quê de adrenalina. Tropeçar em um de seus amigos pode ser mais comum do que se imagina. Além disso, é possível que alguns colchões se furem ao longo dos quatro dias.

Você pode, também, optar por uma barraca, caso prefira privacidade. Para isso, cruze os dedos e não faça a dança da chuva. Barracas boiando, goteiras, lama e poças d’água são figurinhas carimbadas de Bifes, Economíadas, Jucas, Jurídicos e afins.

Durante o feriado, se questionar sobre curtir as festas ou se preparar devidamente para os jogos é algo comum. De tudo isso, integração é a palavra-chave. São nessas condições que você terá a oportunidade de conhecer pessoas com uma mentalidade diferente daquela preconizada pelo departamento em que você estuda. Esta talvez seja uma de nossas maiores missões: emergir de uma bolha que incessantemente nos cerca e sufoca.

Quando os jogos acabarem, voltar para casa é um capítulo à parte. O conforto de casa e minutos preciosos de sono são as coisas mais cobiçadas. Mas, assim que o motor rugir, bravos guerreiros, também extenuados, timidamente entoarão os gritos de sua atlética.

Durante a viagem, o ônibus deve parar no Graal. Esta é a hora em que você percebe que os quinze minutos destinados ao lanche não são apenas quinze minutos. No outro dia, a rotina seguirá a mesma, com aula e trabalho, mas abrir mão desse tipo de aventura não é uma opção. Afinal, outro momento como esse, só no próximo semestre.

Voltando à graduação, a esta altura, o fim do segundo ano do curso se aproxima. Metade do curso já ficou para trás. Aos trancos e barrancos, o saldo é positivo. Dentro da sala de aula, mesmo que o papo de que você será preparado para o mercado de trabalho seja, em partes, mentira, você terá a oportunidade de crescer. Quando estiver fora dela, então, passará por momentos marcantes. Talvez o intuito da graduação não seja exatamente este, mas isto é assunto para outra discussão.

Enquanto estiver na universidade, perceberá que o ambiente acadêmico é bastante complexo e problemático, sem dúvidas. Por isso, espero que este relato sirva de alento. É possível, sim, se encontrar dentro da USP. Fazer amigos. Jogar, do xadrez ao rugby, e alegrar a massa. Tocar, nas baterias ou em rodas de pagode – basta um pandeiro ou um tan tan e as palmas da galera. Dançar, pular, beijar. Caro leitor, fique à vontade para adotar meu bordão: vamos juntos, pelo bem da resenha!