O que há de política no vazamento da planilha de calouros da Faculdade de Direito

Documento elaborado por coletivo integrante do centro acadêmico mapeia perfil de ingressantes a partir de curtidas no Facebook

Tom pejorativo adotado na em termos da tabela causou incômodo entre estudantes. Vazamento semelhante ocorreu em 2009. Foto: Raphael Concli

Por Raphael Concli

Constrangimento geral tomou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco na quarta feira, 11 de abril, quando um mapeamento de calouros veio à público. A lista de alunos depreciativamente qualificados foi encontrada no disco virtual de uma das turmas de calouros. O documento traz nomes, locais de origem e informações sobre o perfil de novos alunos, identificados, por exemplo, como “progressista zuero”, “anarquista, mas potencialmente disputável” e “Chiquititas”.

A lista, divulgada na página do Facebook dos alunos pelo ombudsman do Centro Acadêmico 11 de Agosto, foi elaborada por membros do coletivo Contraponto, que compõe a atual gestão do Centro Acadêmico com o coletivo Levante Popular da Juventude.

Estátua símbolo da peruada, presente na sala das assembleias de estudantes.

Houve repercussão na imprensa. Um teste no Buzzfeed não demorou a aparecer, assim como  nota de retratação dos autores da tabela. Eles justificaram o mapeamento, desculpando-se pelos termos.

A publicação da tabela ocorreu no momento em que acontecia uma assembleia de avaliação das contas do Centro Acadêmico, referentes aos meses de outubro a dezembro de 2017, época em que a entidade era gerida apenas por membros do Contraponto. Problemas na comprovação de gastos envolvendo festas, como a famosa peruada, levariam a reprovação da prestação de contas. Em meio à reunião, a planilha viralizava no Facebook.

Para o ombudsman, a divulgação serviu para apontar uma falha e também é parte da cultura de transparência que ele pretende consolidar junto ao conselho fiscal, órgão responsável pela avaliação das contas do 11 de Agosto. Para ele, ranqueamentos de alunos como esse são comuns entre entidades estudantis e políticas, o problema está em como isso foi feito.

 


Erramos

Segundo o presidente de Centro Acadêmico e integrante do coletivo Contraponto, Luís Gonçalves, a realização de mapeamentos serve para a aproximação de  novos alunos e identificação de interesses comuns, especialmente políticos.

É nesse sentido que termos como “judeu” foram usados, conta um dos membros do coletivo que propôs a categoria. A proximidade religiosa pode criar contatos e abrir caminhos para abordagem de temas políticos, conta o estudante, que é judeu.

Os membros do Contraponto reconhecem, no entanto, que termos da tabela foram equivocados. Segundo eles, o objetivo não era rotular ou motivar tratamento diferente. Eles pretendem realizar uma reunião aberta com calouros para discutir o assunto. Lamentam, ainda, que o fato tenha motivado difamações ao movimento estudantil.

Risos

Ainda não há consenso entre os calouros sobre o que fazer. Há quem demande  novas formas de retratação, outros consideram a destituição da chapa ou de apenas alguns membros. Até o fechamento desta edição do JC, oito turmas ingressantes elegeram dois representantes cada para elaborar carta conjunta sobre o caso.

Entre os listados, Alexandre Leoni foi identificado como “de direita e fã de Felipe Neto”. O calouro esclarece: “Sou de esquerda.” Quanto a ser fã de Felipe Neto desde 2009, o erro está na fonte: o perfil mapeado é de outra pessoa com o mesmo nome.

O mapeamento pode ser tema de fantasias na Peruada de 2018. Camisetas com frases constantes no mapeamento estão sendo produzidas. Sobre porquê fazê-las, um calouro comenta: “pela mesma razão que se fazem memes”.