A emoção que vale o perrengue

Ilustração: Daniel Miyazato

Por Juliana Lima

Logo que entramos na universidade, ficamos desnorteados com todas as informações novas. Os veteranos sempre se empolgam em mostrar aos recém-chegados tudo o que aquela vivência tem a oferecer. Uma informação, porém, sempre se destaca na Escola de Comunicações e Artes (ECA): “já é Juca”.

A frase representa o anseio, como em uma contagem regressiva, dos alunos por um evento especial no calendário. Os Jogos Universitários de Comunicação e Artes – Juca, para os íntimos – são, na verdade, apenas mais um evento do tipo dentro do contexto da universidade.

Mas esse é especial. É uma experiência intensa. Cansativa até. São quatro dias de competições de esportes e três festas que unem a noite com o dia. São muitas pessoas convivendo 24 horas. É dormir pouco e mal em barracas e colchões infláveis, ou não dormir de modo algum. São banhos tomados às pressas em banheiros compartilhados.

O cronograma é apertado. Chegamos no alojamento à noite e na próxima manhã já temos o primeiro jogo do dia, mas isso não nos impede de ficar acordados conversando e dançando. A euforia da primeira noite é grande – estão todos muito animados. Daí para a frente, é correria total. São vários jogos dia e noite, festa. No próximo dia, tudo de novo.

“Último busão para o jogo”, gritam as pessoas responsáveis por organizar esse vai e vem. Depois, “último busão para o alojas” quando temos que voltar ao alojamento. Em uma hora, começa a festa e todos ainda precisam se arrumar. “Último busão para a festa”. As frases já viraram som ambiente e, claro, um tipo de piada.

De dentro da bateria da faculdade, não existe calmaria. Tocamos em cerca de três jogos por dia, quase sem pausas, do momento em que o time entra em quadra até quando deixa o local. As mãos ficam calejadas, os braços e pernas doloridos devido ao cansaço e ao peso dos instrumentos, a voz rouca de tanto cantar e torcer. Ainda assim, nos divertimos e nos emocionamos.

Pode ser um pouco difícil entender por que gostamos tanto dessa experiência, por que motivamos tanto outras pessoas a gostarem também. Afinal, a vida universitária já pode ser bastante cansativa. Seria bastante óbvio querer descansar durante quatro dias, sumir do mundo. O que nos leva, então, ano após ano a nos exaurir em uma viagem dessas? Se você for como eu, que quase não se interessa por esportes, essa pergunta pode parecer ainda mais difícil de responder e aproveitar essa experiência, ainda mais difícil de se imaginar.

Mas o Juca não é apenas uma competição de esportes e não é apenas uma festa. Ele assume um papel de oásis na vida universitária. É quando você se lembra que está na faculdade que queria e batalhou para estar. É reconhecer que as pessoas a sua volta também se sentem dessa forma. Você é tomado por um amor a sua faculdade que pode ser esquecido facilmente no meio de provas, trabalhos, preocupações e dificuldades que ela te traz. São momentos de união e orgulho. São quatro dias em que tudo o que importa são esses quatro dias. Uma válvula de escape.

Na vitória ou na perda, vemos nossos amigos atletas e torcedores se esforçarem muito para representar a faculdade. A ECA não é grande perto das outras competidoras, que levam muito mais pessoas. Mas somos reconhecidos pela nossa garra e alegria. Dessa forma, fica fácil torcer.

Depois de um jogo apertado, ainda com lágrimas nos olhos, nos abraçamos e agradecemos por estarmos ali juntos, se ajudando, não nos deixando desistir do nosso esporte e da nossa faculdade. Algumas pessoas estão chegando agora, outras estão se formando e se despedindo dessa etapa da vida. É um misto de emoções.

Todo o nosso passado pesa, mas o futuro da esperança. Neste ano, o quarto lugar na classificação geral nos lembra do esforço contínuo de todos que estão aqui agora e todos que já estiveram. Ainda temos um caminho grande pela frente. Terminamos a experiência fortalecidos.

Nos levamos ao extremo. E gostamos. Sem dormir, a voz rouca, o corpo pedindo cuidado, continuamos entoando o grito na arquibancada e o riso nos momentos de festa e descontração. Saímos de lá exaustos, mas renovados. Prontos para o próximo ano. Como em um ciclo, nos tornamos os veteranos que incentivam os calouros a se apaixonar pelo evento. Recomeçamos a contagem regressiva. Já é Juca.