O rosto da USP no exterior é de uma mulher

Desde 2 de janeiro de 2018 à frente do Instituto de Relações Públicas, a dupla de professores gestores Janina Onuki e Moacyr Martucci teve sua posse devidamente comemorada apenas em maio. A partir de então, o Instituto passou a ser palco de questionamentos sobre o futuro da nova administração e como ficará o papel da Universidade de São Paulo no que tange a posicionamentos internacionais. Em conversa com o JC, Janina e Moacyr destacaram que o IRI tem papel importante no incentivo ao debate, principalmente a nível internacional, e que é necessário incentivar professores à pesquisa.

Identidade

Um dos grandes desafios da nova gestão é a criação de uma identidade para o IRI. Por identidade, entende-se uma cultura própria do Instituto. “Essa identidade vai se construindo aos poucos e é um desafio, mas eu acredito que é um trabalho de todos para se criar uma identidade de Relações Internacionais. Eu vejo que as pessoas têm feito esse esforço”, afirma Janina. O prédio do Instituto é relativamente novo, entregue em 2014, o que marcou a história do curso: “tivemos a sensação que agora temos uma casa. Muitos professores passaram a investir mais aqui, a pesquisar mais. Mudou a mentalidade. Precisamos continuar com isso, com esse investimento no curso”, completa Janina. Atualmente, o IRI possui professores próprios e de outras faculdades da Universidade que dão aulas no local e colaboram com o Instituto.

De dentro para fora. De fora para dentro

Com graduação e pós-graduação relativamente novas, o IRI busca, gradativamente, expandir seu portfólio de cursos e assim, atrair ainda mais alunos. Um dos principais atrativos para os doutorandos é a possibilidade com o duplo diploma com a King’s College de Londres, uma das melhores universidades do mundo, que dá a possibilidade da pós-graduação dupla.

Ainda assim, há o desafio de elevar a nota do CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) de quatro para seis, e, para isso, é necessário incentivar professores a pesquisarem mais e orientarem mais alunos. No entanto, a dupla garante que as especificidades do curso sempre serão respeitadas e que a qualidade da educação e da pesquisa dadas no IRI são os objetivos maiores a serem mantidos no momento.

O Instituto também conta com um  movimento de Professores de fora do Brasil que, anualmente, vêm para o IRI para darem aula e, em 2018, dois pesquisadores ficarão no Brasil pelo Instituto. Esse programa é uma forma de criar um intercâmbio cultural entre os acadêmicos e enriquecer ainda mais a experiência dos graduandos e pós graduandos.

Influência

“As participações do IRI nas ações do Itamaraty estão melhorando, e tendem a melhorar mais ainda. As ações dentro do Ministério de Ciência e Tecnologia na área Internacional para políticas de ciência e inovação internacionais também são pontos a serem melhorados”, introduz o professor Moacyr. Um dos papéis do IRI é fortalecer a participação da Universidade de São Paulo a níveis nacional e internacional em assuntos que estão relacionados à atuação pública. Uma forma de aumentar ainda mais essa atuação é com a ampliação dos debates que são fomentados dentro da Universidade para fora dela, com convite a professores para palestras, seminários e grupos de extensão. A qualidade do debate foi um dos pontos levantados por Janina, uma vez que, para ela, é necessário, antes de mais nada, provocar o diálogo produtivo.

Irregularidades

O estatuto da USP prevê para primeira fase de eleições para diretoria que, para se candidatar, estão elegíveis apenas professores titulares. Duas chapas foram registradas nas eleições de 2017, no entanto, houve um descontentamento com a regra relacionada à questão de titularidade dos professores. Janina e Moacyr foram eleitos no primeiro turno, com o aval da Procuradoria Geral da USP para que o reitor pudesse nomear a nova gestão. “Como ocorreram muitas eleições no fim do ano, as posses ainda estão acontecendo (…) e a nossa está acontecendo agora. Como a posse é um ato público, isso volta a gerar manifestações públicas. Mas, desde 2 de janeiro estamos trabalhando para que a gente possa ter uma relação mais harmoniosa e continuamos trabalhando para isso”, afirma a diretora.  

A representação da USP é feminina

“Näo vou dizer que é fácil. Não é o Instituto de Relações Internacionais. É a USP. Ainda há poucas dirigentes”, começa de forma direta Janina a falar sobre sua recente representatividade feminina. “Há uma atenção maior, acho que todas as mulheres sentem um pouco essa atenção maior para o que você está fazendo. (…) Ainda é um mundo dos altos cargos mais masculinos que femininos, isso já é um fato que te coloca um desafio, eu sei o que eu represento, eu sei a importância disso”, afirma a diretora. A posse de Janine dá início a uma nova fase da Universidade que une o desafio de trazer uma identidade do IRI e aliar essa busca a uma representatividade feminina. Professor Moacyr complementa a fala da diretora com a recordação do acordo assinado com a Comissão Europeia, em 2001, na qual havia uma cláusula que comprometia a USP a compor equipes homogêneas: “para mim, aquilo não causou estranhamento, para alguns colegas causou espanto, me perguntaram como iríamos achar 50% de mulheres na engenharia! Isso me remonta como é importante o exemplo da mulher, porque eu sempre trabalhei com mulheres e percebo que esse exemplo é importante para as gerações futuras”, complementa.