Aluna de São Carlos ganha prêmio de melhor IC

Raquel Gama conta como sua trajetória escolar influenciou no seu interesse pela pesquisa

Por Letícia Vieira

Raquel sempre gostou de matemática, mas também de ver o conhecimento aplicado de forma concreta. No Instituto de Física de São Carlos, ela descobriu que poderia ter os dois.

Medalhista de olimpíadas científicas na época da escola, agora, no quarto ano de graduação, a estudante é premiada por seu projeto de Iniciação Científica em Ressonância Magnética Nuclear pela Associação de Usuários de Ressonância Magnética.

Ao Jornal do Campus, ela conta sobre sua experiência acadêmica e seus planos para o fututo.

Física era o que você queria estudar desde pequena?

Não. No ensino fundamental, eu pensava em cursar matemática, porque tive contato com a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Só escolhi a física no terceiro ano do ensino médio. Participei da Escola de Física Contemporânea aqui na USP de São Carlos. Passei uma semana assistindo a palestras e fazendo experimentos.

Como você soube da OBMEP?

Eu estudava em uma escola estadual, não muito forte. Comecei a participar da OBMEP aos 11 anos, na 5ª série. Nesse ano, eu fiz a prova sem nem saber direito para o que era. Depois da primeira vez, a própria olimpíada me incentivou. No ano seguinte, ganhei minha primeira medalha.

Como você ficou sabendo da oportunidade de fazer Iniciação Científica?

No ano em que eu entrei, comecei uma iniciação científica com o pessoal da matemática. Como fui medalhista na OBMEP, pude fazer uma Iniciação Científica lá, mesmo sem estar no curso. Depois disso, quis me aprofundar na minha área e fui buscar uma oportunidade. Entrei em contato com o meu atual orientador, Eduardo Ribeiro de Azevedo, porque a ressonância magnética nuclear me chamou atenção.

Como você explicaria a sua pesquisa para um leigo?

A gente trabalha na área de ressonância magnética nuclear, que tem os mesmos princípios físicos, mas funciona de forma diferente da ressonância de hospital. Nela, você utiliza técnicas para entender os materiais em nível molecular. No meu caso, estou focada em um polímero. Se ele sofre uma trinca e é aquecido, se regenera ao voltar à temperatura ambiente. Ele foi desenvolvido na Engenharia de Materiais de São Carlos, pela doutoranda Sandra Patrícia Tita e pelo professor José Ricardo Tarpani, que o pretendem usar como sensor de trincas em aviões.

Como acontece o trabalho em conjunto com a engenharia?

Os nossos trabalhos são complementares. Essa propriedade do material se autorregenerar precisa ser muito bem entendida. É preciso identificar o que muda nele para que isso aconteça. Na Engenharia de Materiais, são feitos testes químicos e aqui fazemos testes físicos. A gente só tem acesso a uma parte muito específica relacionada à frequência do material.

O que fez o seu trabalho se destacar e ganhar um prêmio na Associação de Usuários de Ressonância Magnética?

Tinham quatro trabalhos concorrendo e o nosso ficou em primeiro lugar. Eu acredito que um fator importante foi o uso da ressonância magnética nuclear de forma prática. Além disso, temos esse material inusitado que se regenera e um trabalho bem completo. Estamos estudando isso há um ano e meio.

Como foi a evolução nesse um ano e meio de pesquisa?

Eu comecei a trabalhar com meu orientador há dois anos e meio, mas no começo eu estava só estudando, a gente não ia ao laboratório. Essa etapa pode parecer chata. Não é. Eu precisava dessa base. Mas estudar o polímero foi a melhor parte. Ver os resultados me incentiva muito.

Com o que a Iniciação Científica contribuiu para a sua formação?   

Eu acho ela muito importante, principalmente para quem é da área científica. Em geral, estamos interessados em seguir carreira acadêmica e a Iniciação Científica dá muita base para isso. Ela permite conhecer as áreas de pesquisa. É o momento de experimentar. Agora já sei em qual área quero fazer o meu mestrado e, mais do que isso, já tenho experiência. Poderei pesquisar coisas mais avançadas.

Trabalho multidisciplinar e multi-institucional

O material estudado por Raquel Gama é um filme de compósitos poliméricos flexíveis que vem sendo desenvolvido desde 2015. Grande parte do processo ocorre na Escola de Engenharia da USP São Carlos e está inserido no projeto de doutorado de Sandra Patrícia da Silva Tita, orientada pelo Prof. José Ricardo Tarpani. Porém, também estão envolvidos o Instituto de Química da Unesp Araraquara e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.