Aluno tem experiência difícil ao buscar serviços de auxílio psicológico na USP

Repórter do JC foi ao novo escritório de saúde mental, ao HU, ao Instituto de Psicologia e a outras faculdades

Por Wender Starlles

Ilustração: Tami Tahira

Era por volta de 8h30 quando saí em busca do recém inaugurado Escritório de Saúde Mental (ESM) da USP. Sem informação prévia sobre sua localização, decidi me aventurar no campus da Cidade Universitária e sair perguntando. Afinal, alguém deve saber onde fica, certo?

A princípio, pensei em perguntar em locais de concentração de gente, como ponto de ônibus, logo pela manhã; bandejão central, no horário de almoço e o Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP) ao entardecer.  

Para minha surpresa, ou nem tanto assim, ninguém soube informar com exatidão onde de fato ficava o tal escritório. Cada pergunta feita era respondida por um silêncio constrangedor. Às vezes, pessoas muito solícitas — e menos apressadas — tentavam me direcionar. Tudo em vão. Ouvi inúmeras vezes a frase: “Acho que na psico” — Instituto de Psicologia. Vários locais, nenhum era o certo.

Reparei nos olhares desconfiados, as pessoas imediatamente presumiam que eu estava doente. Olhavam-me de cima a baixo. Ali pude constatar o estigma negativo das doenças mentais. Assumir a necessidade de auxílio psicológico é carregar o fardo da fraqueza.

Experimente: pergunte onde fica o Hospital Universitário (HU); explique um pouco dos seus sintomas, uma dor de cabeça, braço quebrado, febre. Depois, diga que está a procura de “assistência psicológica” e sinta o julgamento velado cair sobre você.

Salvo pelo Google

Depois dessa correria infrutífera durante o dia, minha frustração era evidente à noite. Eu não parava de imaginar onde seria o Escritório de Saúde Mental. E me perguntava: como algo criado há pouco mais de um mês e meio existe e ninguém sabe?

Recorri ao bom e velho Google, não aguentava mais o desencontro de informações. Uma matéria de jornal indicava o local correto: a Superintendência de Assistência Social (SAS), ao lado do bandejão central.

O horário de atendimento das 7h às 18h, de segunda a sexta-feira, não me favorecia. O relógio do celular apontava 19 horas. Era uma sexta-feira. Não conseguiria ser atendido naquele dia, nem no sábado e domingo. Sem saída, só restava esperar a semana seguinte começar.  

Consulta em 15 dias

Na segunda-feira depois do almoço, fui à SAS. Do lado de fora daquele prédio enorme, procurei placas com a indicação do Escritório de Saúde Mental, e, adivinhe, nada encontrei. Após ser orientado, fui na direção correta.

Uma funcionária do Acolhe USP — programa de acolhimento relacionado ao uso de álcool e outros tipos de drogas —, veio me atender. Fomos para uma sala pequena. Antes de tudo, ela deixou bem claro que não trabalhava no Escritório.

Estava ali somente para agendar a consulta com o psicólogo, no caso, o professor Andrés Antúnez, vice-reitor do Instituto de Psicologia (IP), único profissional responsável pelo atendimento clínico.

A conversa com a moça foi bem rápida, preenchi uma ficha com meus dados para contato, enquanto ela explicava detalhes importantes. Por exemplo, a consulta seria feita ali mesmo, só que em outra sala. O local ainda é provisório, a estrutura iria melhorar.  Saí dali na esperança de ser atendido em breve. Então recebi um email perguntando se poderia comparecer dali 15 dias.

Apesar da iniciativa positiva, percebi falhas procedimentais. A triagem deveria ser feita por um profissional capacitado, para diagnosticar o grau de urgência do atendimento. O retorno para a consulta foi marcado por email. Alguns alunos não possuem o hábito de verificá-los. Em situações como essa, o contato por ligação telefônica é mais eficaz.    

Vários portais noticiaram a criação do Escritório de Saúde Mental na Universidade

“Se precisar, me ligue”

Os dias de espera me levaram a fazer a seguinte reflexão: se eu precisasse de atendimento psicológico naquela semana, existiria outro lugar na Cidade Universitária capaz de fornecer esse serviço? Fui atrás da resposta.

Andei, e como andei. Foram várias unidades: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Instituto de Matemática e Estatística (IME), Escola Politécnica (Poli), Faculdade de Economia e Administração (FEA), Instituto de Psicologia (IP), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Faculdade de Educação (FE), Faculdade de Odontologia (FO) e Hospital Universitário (HU). Descobri coisas intrigantes. O Instituto de Psicologia conta com serviço de acompanhamento psicológico, porém, pasmem: a fila de espera pode ultrapassar um ano. O Hospital Universitário só trata de casos graves de internação psiquiátrica.

Minha saúde mental ao final da experiência cansativa, estava abalada. A universidade é um local que me adoece. Porém, ainda há luz no fim do túnel. Ela se chama Evelin, psicóloga simpática da Faculdade de Odontologia. Foi onde encontrei um momento de alívio.

Numa conversa leve e descontraída, disse que eu não poderia fazer terapia, só pacientes e alunos da unidade eram permitidos. Entretanto, ela não me negou atendimento. Conversamos por quase uma hora.

Depois, pegou um papel, anotou seu nome e telefone. Então ouvi a frase mais carinhosa daquela jornada. “Se precisar de algo, estarei aqui. Me ligue!”