Atléticas fazem caixinha para suprir gastos dos times

Apesar do repasse de recursos obtidos com festas e mensalidades, alguns times buscam outras soluções para cobrir as despesas

Por Amanda Péchy

A principal função da atlética é potencializar o esporte universitário, muitas vezes com investimentos. Através de festas e eventos, arrecada-se dinheiro, que é em parte revertido aos times. Contudo, grande parte dessas organizações não consegue sustentar tantas equipes, deixando aos atletas a tarefa de complementar a renda e o desafio da auto-organização.

Mensalidade

Das mais de 20 atléticas só no Butantã, todas as entrevistadas contam com a caixinha: uma mensalidade paga por cada atleta para cobrir despesas do time. Segundo Gabriela Dias, presidente da atlética da FFLCH, ninguém é excluído por não poder pagar.

Para a presidente da atlética do IRI, Natália Araujo, antes se falava pouco do acesso ao esporte na USP. “Quando começou o ingresso pelo SISU, o perfil socioeconômico do curso mudou. Tem mais pessoas com necessidade agora”, diz. Lá, o teto da caixinha é R$ 50.

Isso gera uma movimentação para suprir a necessidade financeira, como a iniciativa do IRI do Caixa Social. Começou em 2018, principalmente pelos exorbitantes pacotes de inters: a estratégia é cobrir a diferença entre o preço integral e o que o atleta pode pagar. A atlética faz eventos específicos cujos lucros são revertidos para o Caixa Social, assim como 40% do dinheiro recebido de um patrocinador fixo.

O repasse do dinheiro arrecadado com eventos também reduz o ônus da mensalidade. A atlética do IME, além de negociar empréstimos com times deficitários, pagar inscrições em inters e e buscar patrocínios, reverte cerca de R$ 250 por semestre para cada time (dependendo do caixa do ano). Já foi uma atlética que pagava tudo para os times, mas com a mudança na legislação da USP, perdeu todos os aluguéis que poderia receber, como o da lanchonete.

O presidente, David Adorno, disse que opta por segurar o dinheiro arrecadado ao longo do ano, pensando em grandes gastos com campeonatos. No IRI, há repasse de, em média, R$ 300. “Em anos de bonança, a gente tenta dar mais repasse”, afirmou Natália, que neste segundo semestre pôde reverter R$ 500 para cada um dos 13 times. Para ela, a instituição existe para custear o esporte: “Não vejo sentido em arrecadar dinheiro com festa e guardar dinheiro no caixa.”

Na atlética da Física+IAG, há uma parceria intensa com o Centro Acadêmico do Instituto de Física. O CA repassa uma parte de sua renda mensal, proveniente dos aluguéis pagos pela lanchonete, papelaria e livraria do edifício Amélia Império (cedido aos estudantes pelo IF-USP há muitos anos atrás). Esse valor é dividido entre os times, e representa cerca de R$ 500 por semestre para cada um. Festas com lucro acima da média também constituem um auxílio pontual, mas ajuda individual é rara.

Treinadores

O maior gasto para os times não são inters e campeonatos, mas o salário dos técnicos, e essa é a principal função da caixinha.

Pensando nisso, a atlética da ECA se organiza de modo a garantir assistência substancial com esse gasto, estabelecendo como piso salarial R$ 340, e R$ 400 como teto, com aumento de R$ 20 a cada ano de permanência no time. “É uma relação injusta com os técnicos”, diz Giovanni Watanabe, Diretor Geral de Esportes da atlética da ECA. “Mas é a realidade que temos”.

O valor representa um total entre R$ 1.700 e R$ 2.000 reais por semestre para cada time. Em caso de salário mais alto ou gastos com materiais, cabe aos atletas arrecadar mensalidade. Na USP, salários são negociados entre os próprios times e técnicos.

Esse elevado repasse é reflexo de duas coisas: uma arrecadação intensa – já que, segundo Giovanni, no ano passado, a ECA foi a instituição que fez mais festas na USP –, e da cobrança da Taxa Atleta Unificada (TAU), uma taxa semestral paga por todos os atletas para cobrir a inscrição dos times em inters, que neste ano chegou a R$ 125. Das atléticas entrevistadas, a Ecatlética é a única que cobra TAU.

Debandada

A atlética da FFLCH acabou de ganhar nova gestão. Após o egresso de sete dos dez membros no semestre passado, a presidente fala sobre o desafio da reorganização: “O plano é ter um plano”. Sem repasse fixo, ou pagamento de inscrições em inters, os atletas se desdobram para cobrir despesas. Rifas, venda de doces, vaquinhas virtuais: os times dão um jeito.

Organizados com núcleos internos complexos, com Diretores de Modalidade, tesouraria e comunicação, os times da FFLCH são caracterizados não somente pela autonomia, mas pela autogestão. A situação é reflexo do desmembramento da entidade.

A atlética da EACH, que passou por recente perda significativa de integrantes, também apresenta traços de autogestão. Times como o basquetebol masculino são completamente independentes. Apenas times cuja caixinha fica abaixo de R$ 100 recebem algum auxílio.

A debandada é hábito comum nas atléticas uspianas. David conta que no ano em que entrou, o tesoureiro e a secretária abdicaram, e nesse ano, a presidente saiu após um mês de gestão. Natália informa que mesmo a Liga Atlética Acadêmica da USP (LAAUSP), que organiza campeonatos que envolvem quase todas as faculdades e institutos, iniciou o ano com oito membros, e agora está com dois.

Diante de necessidade e instabilidade, os times oscilam entre o vínculo com a atlética e a autogestão.