Cinusp ganha público sem mudar programação

A média de espectadores subiu 50% nos últimos quatro anos 

Cinusp ganha público sem mudar programação
Cena de Comer beber viver – filme exibido na Mostra Mestres do Cinema de Taiwan. Foto: Wender Starlles

Por Pedro Vittorio

A sala do Cinusp recebia menos de 20 pessoas por exibição em 2014; hoje, ela recebe em média 30. Nos últimos quatro anos, a média de público subiu 50% e mais sessões têm ultrapassado a capacidade máxima de 100 espectadores. É um crescimento lento, mas seguro.

Localizado ao lado do Bandejão Central, o Cinusp difere dos cinemas tradicionais por focar sua programação em filmes fora do circuito comercial, exibidos em sessões gratuitas. Ele não depende do público para se manter financeiramente, mas nenhum cinema que se preze quer suas luzes acesas pra ninguém.

Apesar do desconhecimento de grande parte da comunidade uspiana, a recorrência de mostras, debates e pesquisas mantém um público cada vez mais fiel e diversificado.

Quem conta os espectadores de cada filme é Fransueldes de Abreu, projecionista há mais de 10 anos. A contagem geralmente ocorre no meio do filme: “As pessoas chegam depois que a projeção começa, e lá pro final muita gente já foi embora”, diz.

Segundo ele, o público do Cinusp é composto principalmente por alunos e funcionários da USP. Se a sua experiência afirma, dados divulgados oficiais confirmam: 65% do público é vinculado à USP, 85% da graduação.

Estratégias

Ohanna Jade, estudante de História, costuma divulgar as mostras em seu Facebook, nos chamados “Anúncios Cinusp”. Avisos sobre a gratuidade do cinema, horários e a descrição da programação são o foco de suas publicações, além de pequenas resenhas. “Fiquei impressionada com a sessão de Capitão Fantástico. Tinha gente assistindo até de pé”.

Os debates também lotam sessões. No ano passado, a discussão que sucedeu o documentário Homens de Bem, sobre o trabalho do deputado federal Jean Wyllis, juntou 120 pessoas.

Estavam presentes os diretores do longa – Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros –, além do próprio Jean Wyllis.  O Cinusp já realizou debates com Anna Muylaert, Marina Person e Marcelo Caetano, sempre com sala cheia.

Outra prática comum no Cinusp são as sessões fechadas, como para o público infantil da Escola de Aplicação da USP e das Creches Central e Oeste COSEAS/USP.

Cristian Borges, diretor do Cinusp, garante que estão tentando trazer o público das escolas. “Sempre que acontece é legal, mas ainda não estabelecemos uma regularidade. Requer uma infraestrutura mínima. Isso está nos nossos planos de expansão”.

O Cinusp atendeu a iniciativas do CTR (ECA), ICB, CoralUSP, FEA e ECA – estes dois últimos para recepções de calouros. Também abre as portas para a comunidade externa, em eventos do Circo Escola (da comunidade São Remo), da Boutique Filmes e da Vitrine Filmes.

Espectadores

Foto: Pedro Vittorio

Rafael Olvides é aluno de Filosofia da FFLCH e mora no CRUSP. Considera o Cinusp o segundo melhor cinema de São Paulo – atrás apenas do CineSesc – e costuma frequentá-lo sozinho. “No começo, achei que era um cinema improvisado. Mas fui conhecendo melhor e hoje vou sempre que posso”. Rafael se impressionou com a mostra Vibrações: Música no Cinema, principalmente com o filme Dançando no Escuro, do Lars Von Trier.

Foto: Pedro Vittorio

Angelo Marcio de Almeida é funcionário do CRUSP e aluno da EEFE. Cresceu na São Remo, sempre frequentando a USP. Ele só foi uma vez à sala para um ensaio do Coral USP, no projeto Cantata Brasileira. Nunca foi assistir a um filme por falta de tempo, mas tem curiosidade, pois sempre ouviu falar do Cinusp. 

Foto: Pedro Vittorio

Milene Martini é aluna de Letras da FFLCH e vai frequentemente ao Cinusp para descansar de uma rotina pesada de estudos. Nunca viu por lá um filme que realmente chamasse atenção.

Foto: Pedro Vittorio

Vanda Serizawa é aposentada e trabalha com marketing. Começou a frequentar a USP como ouvinte em aulas de grego e ficou sabendo do Cinusp. Gosta de ver filmes que não pôde ver em circuitos cinematográficos e rever os que gostou. Reclama, no entanto, que o Cinusp fica longe demais.

Muita gente ainda não viu

O campus da USP no Butantã atende cerca de 48 mil alunos. Se cada um fosse a uma sessão por ano, todas as sessões do Cinusp teriam suas 100 cadeiras preenchidas. Isso sem contar os docentes, servidores e visitantes.

O ineditismo da programação procura ser o principal atrativo. Em “Mestres do Cinema de Taiwan”, mostra encerrada dia 24 de agosto, alguns dos filmes nunca haviam sido exibidos comercialmente no Brasil.

Após adquirir uma cópia dos longas That Day on the Beach, Ah Chung, Darkness and Light, Strawman, Murmur of the Hearts e Banana Paradise na Cinemateca de Taiwan, com o apoio do Escritório Econômico e Cultural de Taipei em São Paulo,  o Cinusp contratou empresa para legendá-los em português.

Segundo Thiago André, coordenador de produção do cinema, “você nunca vai ver uma mostra do Cinusp que poderia ter sido procurada facilmente no Google”.