“Não precisamos de entrevista, precisamos de emprego”, afirma refugiado

Em feira realizada na FEA, diversidade cultural se misturou com assédio de jornalistas

Casal na feira de refugiados da FEA
Casal do Congo e da Guiana vende bonecas abayomis. Foto: Laura Molinari

Por Gabriel Bastos

No fim de agosto, a vivência da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) mudou de visual: em meio ao seu espaço arborizado, muitas cores, cheiros e sabores tomaram conta do local com a Feira dos Refugiados. 

Organizada por alunos da instituição e integrantes da FEA Social, o evento reuniu pessoas para comercializarem produtos típicos de suas culturas. Mas, na prática, não aconteceu apenas isso: a maior demanda da feira não era por artesanato ou comida, mas sim por histórias de refugiados.

Congoleses, moçambicanos, sírios, turcos e nigerianos eram algumas das nacionalidades que compunham a rede de culturas expostas no local. Em meio a uma Torre de Babel linguística, todos davam um jeito de se entender no idioma, nem que fosse necessário recorrer ao inglês, francês ou mesmo tentar “arranhar” o português.

O pequeno espaço físico foi tomado pelos muitos curiosos, sedentos pelas pequenas exposições de artesanatos, como bonecas abayomis, tecidos e lenços com estampas coloridas, colares e pulseiras. Havia também máscaras com representações religiosas e até perfumes árabes. Para fechar, os pratos típicos de diversos lugares do mundo que, provavelmente, pouquíssimos já tinham visto antes.

Espetáculo?

Mas nada disso se comparava ao que pode ser considerada a atração principal desse menu: as pessoas por trás de tudo aquilo. Os refugiados, que apenas buscavam vender seus produtos, acabaram massacrados pelo exército de câmeras, gravadores e caderninhos que impacientemente buscavam arrancar histórias dessas pessoas – incluindo o repórter autor desta matéria.

Peças de madeira e máscaras: nem sempre os produtos ficaram em primeiro plano. Foto: Laura Molinari

A reportagem do JC observou que, incessantemente, muitos visitantes abordavam os personagens como meros clientes, mas se a conversa fluía, revelavam seus gravadores e desatavam a anotar tudo. Enquanto alguns feirantes esbanjaram simpatia, provavelmente acostumados com tanto assédio, abrindo-se e comentando suas vidas antes do Brasil, não era difícil encontrar olhares receosos e desinteressados em tocar nessas feridas passadas. Não que isso fosse um empecilho para o batalhão.

Em meio a todo esse cenário, é impossível não notar que a atração pelo diferente ou dramático é mais importante do que o presente e o futuro dessas pessoas. Em meio a essas contradições, um dos rostos mais simpáticos – e dono de uma linda história de amor – acabou comentando, sem tirar o sorriso do rosto: “Nós não precisamos de entrevista. Nós precisamos de emprego”.