O que acontece na USP no fim de semana

Transporte reduzido e poucas opções de lazer limitam uso do espaço do campus pela comunidade

Com menos circualres passando, a espera por um ônibus que leve ao campus é maior no fim de semana. Foto: Gabriela Teixeira

Por  Gabriela Teixeira e Thais Navarro

Às oito horas da manhã de sábado, a espera na USP por um ônibus das linhas 8012-10 e 8022-10 é mais longa do que nos dias da semana. Não é para menos: de segunda a sexta, as duas linhas têm 18 ônibus “circulares”, que são reduzidos para cinco aos sábados e quatro aos domingos.

Como o movimento no campus da Cidade Universitária não para no final de semana, é inevitável que a fila para o embarque se estenda pelo terminal Butantã, geralmente formada por funcionários da USP e estudantes que vão para cursos regulares, como preparatórios para o vestibular ou de línguas.

Em um mundo perfeito, o intervalo de partida entre os ônibus não é maior do que 30 minutos. Mas isso raramente acontece. Apesar da possibilidade de atrasos por problemas técnicos, acidentes e pelo próprio trânsito, a diminuição de ônibus circulando intensifica o problema.

“O ideal seria que a gestão da USP conversasse com a Gato Preto para pedir mais ônibus. Aumentando dois carros por linha, já diminuiria muito esse intervalo”, diz um motorista. Trabalhando no percurso há sete anos, ele acha que não há interesse da Universidade nem da empresa responsável em dialogarem.

Vai de táxi?

Assim como os ônibus, os táxis diminuem bastante nos finais de semana. De segunda a sexta, cerca de 55 táxis são oferecidos em três pontos do campus: na Praça dos Bancos, na Praça da Reitoria e no Hospital Universitário (HU).

Aos sábados e domingos, há carros apenas no ponto do HU. Entretanto, de acordo com motoristas, os táxis são o suficiente para suprir a demanda, que também costuma ser menor.

“Às vezes fazemos uma carga horária de até 60 horas semanais para não ter que trabalhar no final de semana porque o movimento é pouco e não compensa”, explica um taxista.

Para os que ficam na região do Hospital, a ausência dos colegas não implica em maior faturamento. Após as mudanças no atendimento do HU, a quantidade de passageiros diminuiu. Agora, os taxistas aceitam chamadas de outras áreas do campus e de fora da USP.

Foto: Thais Navarro

O que tem pra fazer

Para quem mora no Conjunto Residencial da USP (Crusp), as opções de lazer aos finais de semana dentro do campus são limitadas. Pode-se frequentar o Centro de Práticas Esportivas (CEPE), mas o Cinusp,
por outro lado, não é aberto.

Além da utilização do campus pela comunidade do CRUSP, o fluxo de pessoas que frequentam a Cidade Universitária nos finais de semana inclui a comunidade externa, sem vínculos com a USP.

Aos sábados, o campus é aberto ao público das 5h às 14h. Nesse intervalo de tempo, dezenas de “assessorias esportivas” utilizam o campus para seus treinos.

“A Cidade Universitária apresenta uma boa estrutura para nós. Em São Paulo, não há lugares físicos tão bons como ela”, afirma o treinador Caio Canário. Ele reclama da reduzida disponibilidade de banheiros e bebedouros para os esportistas.

Ainda aos sábados, é comum que moradores da comunidade São Remo, nossa vizinha, utilizem o campus para o lazer esporádico e atividades regulares, como o projeto social “Ski na Rua”, que oferece treinos a jovens.

O projeto teve início em 2012 e se tornou uma ONG a partir de 2015. Reginaldo, professor de rollerski (esqui de rodinha), explica o que motivou a escolha da Cidade Universitária para os treinos: “A ideia inicial foi utilizar o espaço próximo da comunidade para não necessitarmos de um deslocamento muito grande ou meios de transporte”.

Aos domingos, com exceção daqueles em que ocorrem eventos esportivos oficiais, o acesso é restrito a quem tenha vínculo formal com a Universidade.

Nesses dias, como diz um morador do Crusp, “as coisas ficam muito lentas por aqui.” Além disso, reitera: “a locomoção é dificultada, pois os circulares demoram séculos”.

Moviemento atípico

Segundo dados da Prefeitura do Campus, cerca de 100 mil pessoas passam pela Cidade Universitária nos dias de semana. Ainda que não exista um número oficial relativo à essa circulação nos sábados, domingos e feriados, a redução de transeuntes é óbvia, principalmente à noite.

O fluxo de pessoas começa a reduzir ali pelas 22h. As exceções ficam para as noites em que há festas no campus. Segundo um “cobrador substituto” entrevistado pela reportagem do JC, os dias mais difíceis são aqueles em que a Cidade Universitária se torna sede de eventos, especialmente os de categoria esportiva.

Um deles ocorreu em 11 de agosto, quando foi realizada uma corrida. Houve grande aumento no número de passageiros do ônibus: aproximadamente 800 pessoas utilizaram a linha 8012, em nove viagens.

Os funcionários da viação também precisam lidar com mudanças inesperadas de itinerário: “Tem fim de semana que a gente vem trabalhar, quando chega o portão está fechado. Eles não avisam a gente”, disse o cobrador, referindo-se a Prefeitura do Campus.

Consultada a respeito dessa afirmação, a assessoria da Prefeitura alegou comunicar a SPTrans com cinco dias de antecedência sobre as mudanças.