Casa do Estudante é símbolo de permanência precária

Moradia estudantil da Faculdade de Direito tem cerca de 70 moradores e a demanda vem aumentando desde a aprovação das cotas

Recentemente reformado, terraço é espaço de convivência dos moradores. (Foto: Ana Cipriano)

Por  Ana Carolina Cipriano 

A Casa do Estudante da São Francisco é um prédio comum e sem nenhum destaque, uma moradia estudantil entre os tantos outros edifícios da região paulistana central próxima ao Minhocão e à Avenida Angélica. O único detalhe que identifica a moradia é uma placa que aparenta estar ali desde quando a Casa foi construída.

No último ano, a Casa passou por algumas mudanças importantes para a infraestrutura e para os próprios estudantes. A moradia é uma das entidades da Faculdade de Direito que sobrevive com os repasses do Centro Acadêmico XI de Agosto.

Em 2008, foi realizada uma assembleia geral com o intuito de discutir e decidir a proporção que cada entidade receberia. A Atlética e o Departamento Jurídico, as duas entidades com maior força política na Faculdade, recebiam as maiores verbas, enquanto a Casa tinha um orçamento mensal de cerca de 5 mil reais.

Sem recursos

Nesse momento, a moradia começou a enfrentar difíceis situações, tanto no que se diz respeito à infraestrutura, quanto ao pagamento de contas. O estudante do quarto ano de Direito da São Francisco, Renan Santos Ferrão, ingressou na Casa em 2015, momento crítico para a moradia.

Renan conta que existiam muitos ratos, os quartos eram lotados, havia vários pontos com infiltração, além dos moradores terem que custear a manutenção. “Foi nesse momento que eu entrei, mas quando é a única opção para você continuar na graduação, você acata.”

Em 2017, com uma nova diretoria na Casa, foi aprovada em uma nova divisão do Fundo do XI de Agosto. A moradia estudantil passou a receber mensalmente um valor que gira em torno de R$ 20 mil. Com o repasse significativamente maior, os moradores conseguiram consertar alguns problemas emergenciais. O terraço foi reformado e impermeabilizado, eliminando infiltrações. Hoje, é um ambiente de vivência e integração dos moradores.

Com recursos mínimos

Hoje, a Casa tem uma configuração diferente da que tinha quando Renan chegou. “Eu acho que houve uma democratização de dois anos para cá no ingresso da faculdade depois das cotas sociais. Isso muda o perfil das pessoas.”

Mas ainda não é possível fazer uma grande reforma na Casa. Em todos os andares a tinta das paredes está descascando, alguns degraus estão quebrados e é incontável a quantidade de buracos nas paredes e no teto. O prédio não tem porteiro em nenhum momento do dia e resta a cada morador e visitante a atenção de se certificar que a porta da frente, com alguns vidros quebrados, foi fechada corretamente.

Vaquinha

Por esse motivo, a Casa iniciou um projeto de financiamento coletivo, em parceria com a FAU Social e a Poli Jr, para revitalização dos espaços e instalações do prédio. Embora os problemas sejam a primeira coisa que vêm aos olhos dentro do edifício, a moradia estudantil representa uma importante alternativa de permanência.

Renan, por exemplo, é de Embu das Artes e passou o primeiro semestre da graduação indo e voltando todos os dias. “A casa do estudante foi indispensável. E, se eu tivesse conseguido permanecer na graduação fazendo esse deslocamento de quatro horas, certamente eu não apresentaria o mesmo desempenho acadêmico que tenho hoje.”

Mesmo assim, pelo menos para Renan, residir na Casa ainda não é  uma opção, é necessidade: “Eu acho que as pessoas não escolhem morar na Casa, porque se elas escolhessem, elas não estariam aqui.”