Laudo aponta causas – nenhuma conclusiva – para quebra do muro de vidro

Por Gabriel Bastos

Meses após a instalação do polêmico muro de vidro da USP, o Instituto de Criminalística de São Paulo apresentou causas para as frequentes quebras das placas. A perícia, a princípio, visava descobrir se havia alguma motivação criminosa, o que não foi confirmado. Onze das quase vinte placas quebradas foram analisadas, apontando distintas motivações como má instalação ou problemas de armazenamento, além de  impactos causados por objetos perfurantes.

Última placa quebrada foi em 23/10. Acima, vidro quebrado antes mesmo da instalação. Foto: Jornal do Campus/Wender Starlles

De acordo com a perícia, seis vidros teriam sido quebrados por objetos, ou algum instrumento contundente. Apesar de apenas duas placas apresentarem marcas desse impacto, a forma como outras quatro se romperam, aponta para o mesmo motivo.

Também são quatro os vidros que podem ter sido quebrados de dentro de USP, e apenas um teria sido atingido de fora.

Outro fator responsável pela quebra são problemas de instalação, mal armazenamento ou mesmo impactos causados durante o transporte. Quanto ao armazenamento, os problemas são evidentes no canteiro de obras da Marginal Pinheiros: do lado externo do muro, placas de vidro estão em estilhaços, antes mesmo de terem sido instaladas.

A vibração é um problema apontado também por “Gaúcho”, apelido de Jorge, que mora com sua esposa às margens da Universidade, em meio ao mato que cobre o muro da USP e próximo à saída da ponte Cidade Universitária.

Gaúcho, que vive há dois anos no local, diz que as vibrações são muito fortes quando caminhões de grande porte passam pela Marginal. De acordo com ele, se uma garrafa de água fosse colocada no chão nesse momento, ficaria mais claro o quanto o solo treme por conta de sua instabilidade.

Projeto executivo x realizado

Sobre a instalação, Fernando Túlio, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, aponta que “existem normas técnicas, disponibilizadas pela NBR – norma brasileira da ABNT –, que apresentam regras para utilização de vidros na construção civil”.

Ele afirma que outros materiais poderiam ser utilizados, mas tem um posicionamento crítico de que o muro não deveria ser prioridade na região: “O acrílico, mais caro que o vidro, poderia ter sido utilizado, mas reforça a questão: trata-se de um projeto prioritário?”

O arquiteto afirma que, para entender se esses vidros foram instalados corretamente, seria necessário que fossem disponibilizados o projeto executivo, que é inicial, e o projeto adaptado, referente a como foi construído.

Questionada pelo JC, a Prefeitura do Campus alegou que o laudo é inconclusivo e que “de posse deste laudo, estudos mais específicos deverão ser realizados para se entender a causa das quebras”.

Respondendo se houve alguma análise prévia, a Prefeitura diz ter feito algumas análises, disponíveis em seu site. Contudo, as análises se restringiram apenas a verificar possíveis impactos socioambientais com a instalação dos vidros, como o problema dos ruídos e da poluição. Nenhum estudo dentre os disponíveis avaliava condições do solo ou qualquer outro que apontasse para os motivos da quebra apontados pela perícia.

Futuro incerto

Em meio a tais acontecimentos, a USP tem sido alvo de questionamentos sobre o que fará para garantir a manutenção dos muros assim que as obras forem concluídas. A justificativa vaga é que a Universidade fará parcerias público-privadas para manutenção.

A Prefeitura explica que “a USP deverá fazer chamamentos públicos para obter doação de empresas privadas para manutenção do muro a exemplo do que foi feito para sua construção”, mas o detalhamento desse sistema apenas será feito após a conclusão da obra.