Proposta de avaliação docente exclui participação de alunos

Beatriz Cristina Sabino

Por Ana Carolina Cipriano e Bruna Diseró

Os alunos estão excluídos da avaliação dos professores segundo a proposta da Comissão Permanente de Avaliação (CPA). Apresentada em 2016 como um novo sistema de verificação da qualidade acadêmica e aprovada pelo Conselho Universitário (Co), o intuito da proposta é avaliar os projetos pedagógicos de cada docente.

A CPA encabeça a proposta que irá nortear os passos da Comissão Plenária (CP), da Comissão de Avaliação Institucional (CAI) e da Comissão de Atividades Docentes (CAD). A proposta será dividida em ciclos de cinco anos. Durante cada ciclo, as instituições, departamentos e docentes deverão desenvolver e colocar em prática seus planos pedagógicos.

O novo sistema será uma referência para progressão de carreira dos docentes. O documento explica que a avaliação tem um caráter de regulação e orientação em relação ao planejamento de atividades acadêmicas.

Contudo, o material intitulado “Avaliar para evoluir” chama atenção pela pouca participação discente. O documento não aponta quando nem como seriam consideradas as opiniões dos discentes sobre seus professores.

Embora a avaliação dos alunos seja um dos pontos levados em conta em sua elaboração, o projeto se aproxima mais de um de um plano de carreira dos docentes, do que de uma ferramenta de melhoria da qualidade das aulas e do projeto pedagógico. Isso difere do sistema adotado por algumas unidades da própria USP.

Quando questionada sobre a elaboração do sistema da CPA, a assessoria de imprensa da universidade afirmou que  “não está prevista a participação direta do estudante na avaliação docente” para as próximas consultas.

Avaliações existentes

Periodicamente, as instituições de ensino superior brasileiras são avaliadas pelas instâncias responsáveis que garantem a renovação do reconhecimento dos cursos. A avaliação da USP é realizada pelo Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE-SP), assim como outras instituições vinculadas ao Conselho.

Na USP existem dois tipos de avaliação. A externa é realizada por um corpo determinado pelo CEE que analisa questões de infraestrutura, matriz curricular e corpo docente. A cada cinco anos, no máximo, são emitidos pareceres para recredenciamento dos cursos.

A outra forma de avaliação é a interna, gerando relatório final elaborado pelo CEE. As avaliações são feitas em todos os institutos da USP, embora os métodos e fins possam variar de unidade para unidade.

Apesar das diferenças, o Jornal do Campus constatou que a participação dos discentes é essencial. Uma das pioneiras, a Poli, integra desde 2006 os estudantes na análise dos professores.

O método é proposto em parceria entre a Comissão de Graduação, a Comissão do Ciclo Básico e as Coordenações de Cursos (COCs) e dá autonomia aos alunos para que juntem informações entre eles, analisem dados e apresentem o resultado aos professores os resultados. Posteriormente, os docentes discutem a avaliação com os estudantes.

Entre as faculdades que adotam apenas o método de avaliação da CPA, estão a Faculdade de Economia e Administração (FEA) e a Faculdade de Educação (FE). Outras, como o Instituto de Física (IF) e o Instituto de Matemática e Estatística (IME), não possuem nenhum tipo de avaliação dos docentes.

 

Alunos opinam

O Instituto de Relações Internacionais (IRI), a Escola de Educação Física  e Esporte (EEFE) e o Instituto de Geociências (IGc) avaliam diferente seus docentes. Essas unidades possuem parceria com a FUVEST para a elaboração e impressão de questionários específicos. Após tabulação dos resultados, a avaliação final é entregue às Comissões de Graduação. No caso da EEFE, o resultado também é enviado aos professores. No IGc, o questionário deve ser reformulado em breve.

O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) possui um método de avaliação docente-aluno muito semelhante ao apresentado acima. Em entrevista, o professor titular Pedro Dias atenta para a falta de adesão dos discentes aos questionários, afirmando que entre 30% a 60% dos alunos respondem às perguntas de forma completa.

Mesmo assim, Dias reitera a importância do método para a atualização de conteúdo de aula e para a melhoria na relação professor-aluno. Ele diz ainda que o IAG pretende estender o método para a Pós-Graduação nos próximos meses.

A Faculdade de Ciências Farmacêuticas emite formulários para que seus alunos opinem. Ela possui um Programa de Avaliação de Disciplinas do Curso de Farmácia-Bioquímica (PAD-Farma), método online criado pelo Grupo de Avaliação do Ensino de Graduação (GAEG).

Esse grupo é vinculado à Comissão de Graduação da Faculdade com a finalidade de receber as opiniões dos estudantes. Eles respondem ao questionário virtual e o retorno é dado, posteriormente, aos Chefes de Departamento para que possíveis mudanças sejam feitas.

O Instituto de Biologia (IB), por sua vez, apresenta aos alunos um formulário padrão. Paralelamente, cabe a cada disciplina desenvolver uma avaliação específica sobre seu funcionamento e sobre a forma de ensino do docente.

Em resposta ao Jornal do Campus, o diretor do IB afirma que o projeto pedagógico de seu corpo docente é atualizado continuamente pela Comissão de Graduação e, além disso, discutido com a Congregação, que conta com a participação discente.