Soluções para o velódromo não foram soluções

Sem destinação definitiva há anos, planos de reforma e reutilização giram na roda das promessas

O velódromo não cumpre sua função original desde 1990. | Foto: André Martins

Por André Martins

A cada semestre, a equipe do Jornal do Campus se renova. Em 10 anos, cerca de 600 estudantes de Jornalismo passaram pelo JC. Retomar pautas dessa trajetória revela não só problemas anacrônicos, como recorrentes respostas oficiais. Esse é o caso do velódromo, único espaço específico para o ciclismo de pista na capital.

Ao recuarmos uma década no arquivo do JC, encontramos a reportagem “Velódromo é mal aproveitado”, de 2008, evidenciando sua má conservação. Para o então diretor do Cepeusp, Carlos Bezerra, o velódromo jamais deveria ter sido construído na USP.

Sua implantação na Cidade Universitária foi uma contrapartida aos Jogos Pan-Americanos de 1975 que ocorreriam no Brasil, segundo Emílio Miranda, atual diretor do CepeUSP. O país não sediou o evento devido a um surto de meningite, mas o velódromo foi construído.

Quando ficou pronto, em 1976, tinha medidas oficiais. “E funcionou durante muito tempo”, relembra, em entrevista a esta edição do JC. Emílio não mencionou, mas conforme reportagem de 2014, “Proibição de festas inutiliza velódromo”, a instalação esportiva não recebe sua atividade principal desde 1990.

Torneio de ciclismo no velódromo em 1985. | Foto: Arquivo JC

Fazendo as contas, o “muito tempo” de funcionamento regular do velódromo durou 14 anos – na subutilização, está o dobro, 28 anos.

“A USP ganhou isso daqui, não era para a Universidade. Então não justificava nós ficarmos sustentando um negócio que não nos dava nada. As quadras que eram boas, nós utilizamos sempre. Com o tempo, foi degradando, degradando. E assim chegamos ao ponto em que estamos”, reforça o diretor.

 

Condição crônica

A reportagem do JC de 10 anos atrás apurou que problemas estruturais do velódromo começaram no final da década de 80. Faltava verba para manutenção. “Instalação esportiva tem uma característica: você pode fazê-la o mais linda possível. Se você não a usar e a mantiver, ela vai degradar”, analisa Emílio.

Hoje em dia, a estrutura inteira é precária. O atual diretor reconhece o impacto da falta de manutenção e rapidamente complementa: “Até é uma preocupação da reitoria de tentar fazer uma parceria público-privada pra ver se dá uma retomada”.

Coincidentemente, na véspera da entrevista a esta reportagem, o diretor teve uma reunião importante com terceiros sobre a reutilização do velódromo. “Para treinar e para usar, o velódromo daqui poderia muito bem ser utilizado”, opina.

Juntamente com a diretoria do CepeUSP, a Superintendência do Espaço Físico é responsável pela conservação das praças esportivas do espaço. Francisco Cardoso, superintendente do órgão vinculado à reitoria, revelou à esta edição que o Plano de Obras da SEF prevê a contratação de um laudo sobre a situação estrutural do velódromo.

Mas ainda não estamos convencidos da sua oportunidade, tendo em vista que não se sabe qual destino terá a construção, e que um laudo desse tipo custa várias dezenas de milhares de reais”, declara.

 

Arena USP

Em 2012, matéria do JC intitulada “Velódromo deve virar arena multiuso” noticiava o projeto em parceria com a empresa Castro Mello, promessa antiga. Quatro anos antes, Carlos Bezerra, então diretor, havia dito ao JC que “o ideal seria ter no espaço do velódromo uma arena multiuso para receber esportes e eventos culturais”.

O projeto arquitetônico foi feito em 2013 e previa a derrubada da estrutura. Mas o que seria a primeira reformulação do velódromo, não aconteceu. Motivo? O custo de 25 milhões, segundo Emílio.

O orçamento da reforma que nunca saiu do papel ainda não tinha sido estimado quando a matéria do JC foi publicada. Eduardo Castro Mello, um dos sócios da empresa responsável pela empreitada, confirma o valor de 25 milhões… só que em dólares.

Na ocasião, em 2012, Eduardo Castro Mello condenou a estrutura do velódromo. À atual reportagem, informa que mantém a sua posição de que não acredita ser viável, dos pontos de vista técnico e econômico, a revitalização do atual velódromo.

 

Espaço estagnado

Dando sequência à retrospectiva de coberturas do JC sobre o velódromo, Emílio mencionou em 2014 que no velódromo “não se fazia nada há muito tempo”. No entanto, segundo ele, algumas melhorias estavam sendo “pensadas e previstas para 2015”.

Encontramos uma reportagem de 2015 que retomou o assunto. Na matéria “Diretor do Cepe promete melhorias na estrutura esportiva”, ele reconhecia problemas e mencionava novamente a possibilidade de reforma.

“A ideia da Universidade é recuperar o velódromo, não como um espaço para o ciclismo em si, mas sim para torná-lo um espaço multiuso”, prometeu na época.

Ele também afirmou que a direção estava em conversas com empresas privadas e acreditava que a instalação era inadequada para o ciclismo porque os velódromos oficiais eram menores.

 

“Tudo em estudo, em projeto”

Neste ano, o diretor comenta novos planos: “A gente tá pensando em reaproveitar o espaço. Nada de derrubar ou construir. De repente, fazer uma cobertura. Está tudo em estudo, em projeto. E o projeto nós estamos tentando levantar um dinheiro para fazer”.

Agora é o diretor quem pergunta: “Eu gasto um dinheiro para fazer o projeto do velódromo ou gasto para fazer o projeto de aquecimento da piscina? Acho que é muito mais útil para todos nós, agora, uma piscina aquecida do que gastar dinheiro pra fazer um projeto do velódromo”.

A reforma na piscina está prevista desde 2012. Em 2015, o atual diretor esperava uma “boa notícia” para o ano seguinte, sobre o aquecimento da mesma piscina olímpica. A boa nova não chegou em 2016. E, em 2017, a reportagem “Antes e depois: esporte universitário em obras”, apurou que nada havia sido feito com relação ao aquecimento da piscina olímpica.

Atualmente, ela continua desaquecida. À esta reportagem, Emílio Miranda disse que o aquecimento tem nova previsão: 2019.

 

“Tá ruim, né?”

Sobre a condição do velódromo de receber treinos das atléticas, o diretor admite problema e, novamente, promete: “Tá ruim, né? Mas falta espaço e opção. A gente vai tentar colocar para arrumar, no ano que vem. Estamos sempre atentos em tentar fazer com que o espaço seja útil. Essa é a nossa preocupação”.

 

A questão das medidas

A medida oficial de um velódromo é de 250 metros. O da USP tem 285,714 metros, igual ao de Montreal, no Canadá, onde ocorreram as provas de ciclismo das Olimpíadas de 1976.

Mesmo um pouco maior que as medidas oficiais, praticantes de ciclismo de pista provavelmente prefeririam ter um velódromo na USP em condições de uso.

Com a impossibilidade da prática do ciclismo, veio a alternativa. O velódromo, além de treinos de atléticas uspianas, passou a receber eventos e festas a partir da década de 90.

Esta última acabou em meados de 2014, conforme noticiado pelo JC. Sobre o espaço voltar a ser utilizado para eventos, o atual diretor foi assertivo: “O que nós vetamos, como resolução da Universidade, foram as festas. Dependendo do evento, e desde que seja da nossa comunidade, que não seja aberto ao público externo, não tenha bebida alcoólica e que não seja meia-noite, a gente senta e discute”.