O Clube do Bolinha

Por Gabriela Bonin

A Faculdade de Direito (FD) organizou, nos meses de setembro e outubro, um seminário comemorativo do aniversário de 30 anos da Constituição Federal. O debate reuniu a comunidade jurídica, mas foi criticado pela falta de diversidade: de 32 pessoas, apenas duas eram mulheres.

Uma comissão formada por três professoras da unidade interpreta o acontecimento como um momento de reflexão necessário e promoverá, em março do ano que vem, um seminário sobre conscientização como instrumento de combate à discriminação.

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Após o seminário sobre a Constituição, alunas criaram o manifesto “30 Anos de Constituição no Clube do Bolinha: uma festa entre homens brancos (HBs)”. O documento lista 100 mulheres da área jurídica que poderiam ter sido convidadas para o debate. “Uma vez que a Constituição Federal pede inclusão e diversidade, o evento parece não combinar com o espírito do nosso projeto constitucional”, diz a declaração.

O diretor da faculdade, Floriano de Azevedo Marques Neto, conta que a programação inicial previa mais mulheres, que acabaram não podendo comparecer. Acrescenta que isso não minimiza o problema: “é preciso uma preocupação maior em compor de forma mais diversa a grade de painelistas”.

A professora Paula Andréa Forgioni, que compõe a comissão em parceria com as professoras Nina Ranieri e Eunice Prudente, ao contar sobre a realidade da unidade, afirma que a diferença em número de homens e mulheres entre alunos não é tão grande.

Docência masculina

No entanto, entre os docentes, dos 137 professores da Faculdade de Direito, 26 são mulheres – titulares, apenas quatro. Surgem os questionamentos do porquê do número de docentes mulheres ser tão menor e de como fazer para aumentá-lo.

O evento sobre a Constituição não só promoveu mobilização na Faculdade de Direito, mas teve consequências externas. O escritório de advocacia Peixoto & Cury, por exemplo, fez um evento chamado “30 anos da Constituição sob os olhares de mulheres”, no qual os debates ficaram restritos ao gênero feminino.

Os resultados de uma pesquisa da professora Sheila Neder Cerezetti indicam que a naturalização do gênero masculino ocorre em decorrência da invisibilização do feminino e atrapalha o desempenho das alunas. Intitulado “Interações de gênero nas salas de aula da Faculdade de Direito da USP: um currículo oculto?”, o estudo feito com a participação de alunas do curso analisa a desigualdade de gênero na unidade.

O relatório final da pesquisa será publicado online pela Cátedra UNESCO de Direito à Educação e suas conclusões conduzirão o seminário que a comissão fará acontecer em março de 2019. “Queremos apresentar as pautas para evitar discriminação na Faculdade de Direito e também no ambiente profissional”, conta Paula. “Esperamos muito que dê certo e que consigamos bons resultados, influindo no comportamento de nossos alunos, professores e funcionários”.

A professora afirma também a necessidade de algumas regras sobre comportamentos que não são mais socialmente aceitos. “A São Francisco é um ambiente de mulheres empoderadas”, diz. “Se conseguirmos trabalhar a conscientização em um lugar como esse, o resultado vai ser interessante”.