Acredite, não quero que me leia

Se não me falha a memória, esta é a primeira oportunidade que eu, Jornal do Campus, tenho para desabafar. Não aguentava mais. Vou começar deixando claro que será difícil digerir a capa desta edição: fotografia de um ato na FFLCH? Cruzes.

Não entendo a tara dos jovens brasileiros pelo ensino superior, mas a partir de 2019, essa mamata vai acabar. Vamos aparar as universidades, elas entrarão nos eixos. Acompanhando essa revolução, um novo regime será implantando neste JC.

Para começar, a designação dos cargos será feita por mim. Ditarei toda reunião de pauta. Nunca mais uma secretária ou secretário de redação redigirá editoriais que não se adequem ao país conservador em que vivemos. Parece que não entendem isso!

Os editores? Serão escolhidos a dedo. Quanto à escolha democrática de ombudsman, chega de indicações: eu escolherei quem me critica. Para as editorias, o destino inevitável é a fusão. Acúmulo de funções com maior produtividade, para acabar de vez com a doutrinação.

Sobre as pautas, as tentativas de legitimação pelo discurso constituem uma farsa inventada. Não podemos mais fazer uma brincadeira, uma gozação, que imediatamente somos mal interpretados. Está ficando chato…

E isso de “meninas com ciência” não será mais noticiado – não fica clara a mensagem subliminar? Trata-se de apologia de uma certa consciência enviesada, é coitadismo. Sem falar nessa reportagem sobre assédio nos jogos universitários, outra coisa que, pelo amor…

Também será vetado qualquer dialeto, imagina se acontece como no Enem? Nós precisamos mudar isso aí. Assim, para o próximo ano, uma importante mudança editorial foi tomada em consenso, ou seja, por mim: não haverá mais reportagens, artigos, entrevistas, crônicas. Entendam de uma vez por todas: acabou a discussão de gênero!

A propósito, a postura do JC será favorável à redução de cotas raciais. Afinal, eu não escravizei ninguém, não tenho dívida alguma. Provavelmente, elaborarei um Index, livre de ideologias, com palavras publicáveis e impublicáveis. Nada mais justo.

E se, por acaso, algum repórter estiver sob a possessão da indisciplina, cabeças vão rolar. Antes um aluno a menos, do que um conteúdo contaminado neste jornal. Além disso, a quantidade de páginas passará, naturalmente, de 16 para 17. Tem que arrumar isso daí.

Como? Não sei. Aproveita e pergunta no meu Posto Ipiranga, mas é certo que precisamos mudar. Penso em logo refazer a seção “Em Pauta”, que tomará decisões técnicas, retomando temas que realmente interessam.

Por isso, ainda neste processo de transição e antes mesmo de 2019, intervi na charge desta página. Não sem motivo: tem coisa mais esquerdista do que manifestação artística? Creio que não.

Aproveito para informar que esta é a última edição deste ano do JC. O ano que vem virá renovado. O futuro chegará. Por isso, pare por aqui mesmo. Não leia as matérias. Estão condenadas. E tenha fé, não leia para comprovar, acredite piamente em mim, porque tudo não passa de demagogismo impregnado na ideologia editorial. É verdade. E que não passará impune, tá ok?