Tecnologia desenvolvida pelo IFSC detecta câncer de pâncreas

Biossensor poderá ser utilizado futuramente para detecção de outros cânceres e implementado na rede pública

Ilustração 3D de pâncreas

Rapidez e baixo custo. Essas são algumas das vantagens prometidas pelo novo dispositivo detector de câncer de pâncreas desenvolvido no Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP). Denominado Biossensor, o invento é capaz de indicar em poucos minutos qualquer propensão à doença, mesmo em seus estágios iniciais.

Ainda que causem apenas 4% do número total de mortes por câncer no país, os tumores no pâncreas são o sétimo tipo de câncer mais letal em escala nacional, pois frequentemente seu diagnóstico acontece apenas quando a doença já está em estado avançado.

Segundo o professor Osvaldo Novais de Oliveira Júnior, pesquisador à frente do projeto, isso ocorre porque a enfermidade é silenciosa e assintomática, somente se manifestando próxima à sua fase final. Tal comportamento implica na necessidade de detecção precoce.

Aí entra o biossensor: seu funcionamento norteia-se pela identificação de marcadores que apontem problemas. Para que isso ocorra, ele possui uma camada de anticorpos específicos para o antígeno CA19-9, uma proteína natural do organismo humano que, em altas concentrações, indica propensão ao câncer de pâncreas.

Atualmente, o método de detecção dessa proteína é um exame de sangue chamado Elisa, sigla inglesa para “Ensaio de Imunoabsorção Enzimática”. Mas, além de custoso, sua sensibilidade é limitada, dificultando o diagnóstico precoce.

Para contornar esse obstáculo, os pesquisadores apostaram na utilização de nanotecnologia, através do uso de finas películas chamadas filmes nanoestruturados, cujas multicamadas de diferentes materiais permitem maior sensibilidade e seletividade.

Outras aplicações

Apesar da pesquisa estar ligada apenas ao câncer no pâncreas, Osvaldo confirma que existe a possibilidade de trabalhar o Biossensor com outros tipos de câncer. Para isso, ele afirma que a estrutura do equipamento teria que ser mudada: “A tecnologia que nós empregamos também serve para outros tipos de câncer, mas, obviamente é preciso mudar a arquitetura. O que tem que ser alterado é o tipo de material empregado no sensor”.

Para o grupo de pesquisa que criou o Biossensor, o objetivo principal de todo o projeto é desenvolver tecnologias que possam ser disponibilizadas gratuitamente ao público pelo SUS, ou seja, “gerar tecnologia que seja suficientemente barata para que o exame seja usado rotineiramente no sistema de saúde”, diz o Oswaldo.

No entanto, para que isso seja feito, são necessárias parcerias com empresas ou laboratórios de análises clínicas que tenham interesse em levar isso ao mercado. Se isso ocorrer, o pesquisador explica que em até dois anos seria possível desenvolver e disponibilizar os kits para detecção de câncer.

Há necessidade de alto investimento para desenvolver uma metodologia para que seja possível produzir sensores em larga escala – na casa dos milhares de dispositivos – e “que tenham o comportamento reprodutível, ou seja, tenham o mesmo comportamento”, explica Oswaldo.