E agora, José?

Por Pietra Carvalho

Ilustração: Felipe Biondi

E agora, José? O nome na lista da FUVEST. A aprovação. Um caminho aberto para novas possibilidades. E um ingresso na maior universidade da América Latina que não te dá direito ao passe livre para o seu esquema. Um bilhete dourado que não te faz pertencer, em um instante, a este sistema centenário.

É agora, José? O pertencer? Quando uma festa te custa o almoço de uma semana. Quando a bibliografia demanda conhecimento de duas línguas que você não teve o tempo para aprender. Quando diante dos alunos do maior curso de Direito do país, um professor espalha folhas datilografadas propagando o discurso de ódio às minorias. Quando até a ponte que leva à cidade universitária está tão frágil quanto as certezas dos que dependem do auxílio da USP para se manter.

E agora, José? Como diria o poema de Drummond, “com a chave na mão, você quer abrir a porta, mas não existe porta”. Vêm a solidão. Tal qual bicho-do-mato, sem parede nua para se encostar, ou cavalo que fuja a galope, resta a opção de enfrentar um espaço e fazê-lo seu. Mesmo que ele não tenha sido feito à sua semelhança. E você marcha, José, mas marcha para onde?

Um símbolo nazista da porta do CRUSP. Os problemas nas cotas, nos auxílios. São gatilhos para aqueles que conquistaram seu espaço apesar dos apesares. Para que elas sintam, por vezes, que seu sonho é uma farsa. Em uma roda viva que não faz muito esforço para tentar renovar-se com os novos perfis. Que faz de conta que é um favor recebê-los. Uma caridade.

Mas as minorias aumentam sua presença na Universidade de São Paulo porque seus sonhos, que nascem no coração, são sim genuínos, por vezes inéditos, e superam a estrutura que os pressiona mas não os esmaga, sem nenhum glamour meritocrático por trás.  

E agora, José, os repórteres do Jornal do Campus apresentam uma série de matérias em que tentam sintetizar as dores e delícias de ser um aluno de uma universidade em transformação compulsória – que será obrigada a aprender com os graduandos que está formando.

A noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia. Mas veio uma realidade feita de lutadores que ocuparão este espaço ao lado de nós.

Sejam, no mínimo, bem-vindos!