FEA Ferida: alunos reagem às catracas

Alunos da USP e de cursos de extensão apontam contradição nas políticas de acesso

Por Pietra Carvalho

Uso questionável dos espaços: carteirinha na entrada, pedregulhos na saída. Foto: Pietra Carvalho

No meio de março, a saga das catracas na Faculdade de Economia e Administração da USP ganhou mais um capítulo: aprovadas em 2012 e abandonadas após a instalação em 2015, elas agora foram ativadas, inflamando a discussão sobre privatização do espaço público.

Na última segunda-feira, dia 25, em uma “Prestação de Contas” organizada pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu, o CAVC, Fabio Frezatti, diretor do Conselho Técnico Administrativo da FEA, justificou a instalação das catracas como garantia de segurança.

Mas elas têm prejudicado o acesso de alunos não-uspianos do curso de línguas mantido pelo CAVC e do cursinho pré-vestibular FEA USP. A carteirinha exigida pelas catracas teve de ser paga pelas entidades, de cunho social.

“As carteirinhas são confeccionadas por uma empresa externa, mas tentamos aproximar o design às da USP, para que não houvesse uma discriminação ou desentendimento”, conta João Huber, aluno do 3° ano de administração na FEA que foi presidente do cursinho.

“Esse gasto extra dificulta bastante, até mesmo na divulgação das turmas, pois qualquer aumento de valor é diferencial para a pessoa prestar ou não o cursinho”, completa Huber.

Prestação de contas

Frezatti assumiu a função de colocar as catracas em atividade. Foto: Pietra Carvalho

Na noite de 25 de março, quando questionado sobre a falta de fomento ao cursinho, o diretor da FEA elogiou a “brilhante” iniciativa dos alunos e reafirmou o interesse em conversar com sua administração.

Para Huber, ao contrário, seguidas gestões desvalorizavam as iniciativas de extensão, que impactam 480 famílias. “Quase fomos fechados pela antiga diretoria. Eles chegaram a dizer que ‘havia um fluxo indesejado de pessoas’ por conta das nossas aulas.”

Frezatti admitiu faltar “sensibilidade” para lidar com o fluxo intenso de não-uspianos na FEA, mas não considera que ela se tornou hostil: os seguranças estariam a postos para liberar as catracas, quando necessário.

Enquanto as carteirinhas não chegam, os alunos têm que se identificar em uma lista na portaria. Huber considera que a vigilância impacta pessoas que acumulam rejeições em espaços elitizados.

Na sabatina com Frezatti, quando indagado sobre a contradição entre políticas de acesso e de restrição, ele alegou que “dinheiro é fundamental”, mas que cabe aos feanos acolherem a diversidade crescente da USP. “As pessoas vão se sentir parte da FEA com a ajuda de vocês”, sugeriu o diretor.

Quem disse que é seguro?

Na prestação de contas aos alunos, outra reclamação feita a Frezatti foi sobre a falta de pesquisas comprovando a eficácia das catracas na segurança. Para eles, falta transparência e democracia às diretorias feanas, em uma reivindicação alinhada com a de 2012, quando o plebiscito que aprovou as catracas, com um sistema de voto paritário, ignorou a rejeição massacrante do corpo discente à ideia.

O número de furtos na FEA, segundo o CAVC, é pouco superior ao de institutos com controle do fluxo de pessoas, como o de Química, onde ocorreram oito furtos em 2018, em comparação com nove em ambiente feano, sem contar as ocorrências nas redondezas, mais frequentes no IQ.

Quando perguntado sobre a prioridade de gastos da diretoria com uma “obra faraônica” em meio à superlotação de salas, ambientes sem ventilação e a falta de itens básicos de higiene nos banheiros da FEA, Frezatti passou mais uma vez a bola. “Tem gastos que não competem à gente, e sim à reitoria. Mas agora sobre o papel, eu convido vocês a pensar: a gente tá usando adequadamente o papel toalha?”.