Moradores do CRUSP perdem direito ao Passe Livre e desconto na tarifa

Com suspensão do Bilhete Único Estudantil, alunos de baixa renda são prejudicados 

Por Jonas Santana

Em 28 de janeiro, os moradores do Conjunto Residencial da USP (Crusp) foram notificados pela Superintendência de Assistência Social (SAS) sobre a suspensão do direito ao Bilhete Único Estudantil, o que os impede de ter tanto o Passe Livre quanto o direito à meia tarifa no transporte público paulistano. A justificativa é que, a partir deste ano, os dados são enviados automaticamente quando solicitados pelo Sistema JúpiterWeb e a SPTrans só disponibiliza esse benefício a estudantes que residem a mais de 1 quilômetro de sua instituição de ensino.

Além disso, alega-se que a locomoção no campus pode ser realizada através do Bilhete USP, que permite a utilização dos ônibus circulares que ligam a Cidade Universitária ao Metrô Butantã gratuitamente. No entanto, estudantes que moram próximos às portarias do campus não foram afetados pela medida.

Foto: Francisco Emolo / Jornal da USP

Principais acontecimentos

30 de janeiro – Cruspianos realizam ato em frente à SAS e uma comissão de 6 pessoas, representando a composição do Crusp, é recebida pelo Superintendente de Assistência Social, Fábio Müller Guerrini, ao lado da chefe do Departamento de Promoção Social da SAS, Luiza Canzian, e uma responsável da Seção de Transportes, Daniela Souza.

1° de fevereiro – SAS envia dados dos estudantes cruspianos à SPTrans. No entanto, de acordo com as informações enviadas, os cruspianos moram e estudam na Rua do Anfiteatro, pois todos os endereços do campus foram reduzidos a um único CEP. A partir daí, a SAS passou a responsabilidade para um órgão externo à USP, a SPTrans.

5 de fevereiro – Pró-Reitor Edmund Chada Baracat reconhece o equívoco da decisão, que ignorou toda complexidade da Universidade e o contexto que cerca os alunos cruspianos. Dessa forma, Baracat manda um ofício ao Superintendente de Assistência Social. Face ao exposto, solicitamos que os estudantes moradores do CRUSP recebam também o vale-transporte da SPTrans, para que não haja prejuízos à sua formação e que os mesmos possam realizar as atividades curriculares imprescindíveis para sua graduação”, dizia o documento.

6 de fevereiro – Associação de Moradores do Crusp em conjunto com DCE Livre da USP enviam ao Superintendente de Assistência Social, com cópia ao Pró-reitor de Graduação e ao Superintendente de Informação, um ofício deliberado da Assembleia Geral Extraordinária de Moradores, ocorrida em 30 de janeiro. O documento deu como prazo dia 14 de fevereiro para ser respondido, quatro dias antes do início oficial das aulas.

14 de fevereiro – Pró-Reitoria de Graduação informa que a resposta foi entregue via ofício à SAS.

8 de março – SPTrans informa ao Jornal do Campus que encaminhou à USP, no fim de janeiro de 2019, um comunicado sobre as regras e legislação para o direito ao benefício do Bilhete Estudante. A resposta ao JC ignorou algumas questões levantadas, como a possibilidade de cursar disciplinas optativas fora do campus da Cidade Universitária.

Foto: USP Imagens

Formação dificultada

A obtenção de créditos em diversas disciplinas depende do acesso dos estudantes a aparelhos culturais na cidade e a outros campi da USP. Ao limitar o acesso ao transporte por parte dos estudantes, a Universidade ignora o tripé “Educação, Pesquisa e Extensão”. A estudante do segundo ano de Relações Públicas Janaina Oliveira, por exemplo, pretendia gastar seus créditos de optativas livres em disciplinas do curso de Marketing na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), no campus da USP localizado na zona leste de São Paulo.

Janaina conta, também, que perdeu reuniões de sua Iniciação Científica, geralmente realizadas no Centro Universitário Maria Antonia, além de outros eventos. “Eu preciso de horas complementares para o curso e já teve dois ou três eventos que eu também não fui porque eu não tinha dinheiro para colocar no Bilhete Único”, conta.

Sem o Passe Livre ou a meia tarifa, estudantes que cumprem o Programa Unificado de Bolsas (PUB) fora do campus precisam utilizar parte dos R$ 400,00 da bolsa na tarifa do transporte público. É o que acontece com a estudante do terceiro ano de Letras Juliana Tutunji, que faz parte de um projeto de pesquisa vinculado ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e recebe uma bolsa pelo PUB.

Juliana precisa cumprir 16 horas mensais em escolas da região de Canindé, bairro do centro de São Paulo, além de participar de reuniões quinzenais que aconteciam na USP, mas passaram a acontecer dentro dessas escolas.

Ela é mãe de uma menina de 4 anos, que mora com ela no Bloco A e estuda na Creche Central da USP. Com o corte do Bilhete Único a estudante vem tendo que arcar com mais uma despesa. “Por enquanto minha renda é apenas a bolsa PUB, então para mim está sendo complicado”, desabafa.

Sem respostas

Desde 14 de fevereiro, os estudantes do Crusp não tiveram respostas oficiais sobre a suspensão do benefício. Quando telefonavam, não eram atendidos; presencialmente, os funcionários da SAS, visivelmente sobrecarregados, alegavam não ter novas informações.

Para ter direito a uma vaga à moradia da USP é preciso comprovar por meio do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) sua condição financeira, o que indica que os moradores do Crusp fazem parte da parcela socieconomicamente mais vulnerável da USP. Esta constatação é aparentemente ignorada pela SAS, pois, até agora, não deu assistência social aos estudantes que foram afetados pela suspensão do Bilhete Único Estudantil..

A SAS foi procurada pela reportagem em diversos meios, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição.