Ninguém sabe como o órgão da USP será usado pelos alunos

A promessa era de que o instrumento tivesse finalidade pedagógica, mas por enquanto gera dúvidas

Por Maria Paula Andrade e Mariangela Castro

Foto: João Paulo Falcão

A pergunta mais simples sobre o polêmico órgão de tubos comprado pela USP ainda não tem resposta: além da igreja onde o milionário instrumento foi instalado, quem mais o usará? Seriam os alunos da Universidade, mas eles não foram informados, nem outros envolvidos sabem responder, como a secretaria da Catedral Evangélica de São Paulo, que recebeu a doação.

De acordo com José Luís de Aquino, único professor de órgão da USP, em função da série de concertos que haverá na Catedral, não seria viável iniciar a parceria neste semestre. Um cronograma deve ser elaborado “ainda nos próximos dias” e a promessa agora é que a parceria deve tomar forma apenas a partir de agosto.

No grupo do Facebook que reúne os alunos do Departamento de Música da Universidade, ninguém soube dizer como funcionará o uso do órgão comprado pela USP, quais serão os horários disponíveis para ensaio e qual a burocracia para utilizar o instrumento. Um dos estudantes acha que essa parceria será “pouco acessível aos alunos”.

Parceria?

O órgão de tubos inaugurado na Catedral Evangélica de São Paulo em 22 de março é um instrumento musical feito pela empresa alemã Gerhard Grenzing. Pouca gente sabe, mas esse órgão artesanal foi comprado pela Universidade de São Paulo (USP) por R$ 4,5 milhões, segundo o Diário Oficial de 16 de maio de 2013. Inicialmente, ele seria instalado no Centro de Convenções, no campus central, mas as restrições orçamentárias pararam a obra que receberia o órgão.

Até a paralisação em 2014, a USP gastou cerca de R$ 34 milhões no prédio. Sem lugar para ser instalado, durante cinco anos, os 3.400 tubos de metal e os 175 tubos de madeira que compõem o órgão permaneceram encaixotados.

A aquisição do órgão foi feita na gestão do reitor João Grandino Rodas, segundo a Reitoria, “com o objetivo de fortalecer as atividades de ensino, pesquisa e extensão dos cursos de Música da Universidade”.

Em julho de 2017, o Conselho Universitário aprovou a cessão do equipamento encaixotado à Catedral Evangélica. A iniciativa partiu da própria USP. Segundo o professor Aquino, o principal motivo para a parceria seria a utilização do instrumento pelos alunos da USP.

Havia outro órgão

Além do instrumento agora instalado na Catedral, desde 2005 outro órgão se deteriora em um depósito do campus central da USP. Fruto de doação, hoje está armazenado e espera restauração. Aquino diz que nunca foi consultado sobre a decisão de encomendar o instrumento novo.

Enquanto isso, o Departamento de Música da USP possui apenas um órgão digital, que reproduz gravações de órgãos originais. Este instrumento é o único disponível para os alunos da Escola de Comunicações e Artes praticarem.

Para Willian Tamura, aluno do segundo ano de órgão da USP, a diferença de praticar com um órgão de tubos seria “enorme”. “Trata-se de um instrumento com seu som verdadeiro e original, as alterações são de grande valor.” Apesar disso, ele ainda não sabe qual será o procedimento para estudar na Catedral com o órgão comprado pela USP.

O convênio prevê a permanência do órgão por 25 anos na igreja, explica o reverendo da Catedral Valdinei Aparecido Ferreira. Segundo ele, a própria instituição arcará com os custos de manutenção. Entre março e junho será realizada uma série de concertos gratuitos e abertos ao público no local.