Professor da Sanfran é afastado das aulas

Docente do Direito fez ofensas étnicas e homofóbicas na primeira aula de 2019; não foi a primeira polêmica

 

Por Beatriz Gatti e Maria Paula Andrade

O professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, que apareceu na imprensa pelo conteúdo ofensivo da aula de abertura de semestre na Faculdade de Direito, foi substituído. O anúncio foi feito na quinta-feira, 7 de março, quando a faculdade decidiu afastá-lo temporariamente. Gualazzi será substituído pelo diretor da Sanfran, Floriano de Azevedo Marques Neto.

O controverso episódio protagonizado por Gualazzi aconteceu em 25 de fevereiro, durante a primeira aula da disciplina Direito Administrativo Interdisciplinar. Gualazzi distribuiu um texto de 12 páginas para seus alunos, contendo trechos em que apresentava ofensas racistas, de classe e LGBTfóbicas. O documento também continha a lista de candidatos nos quais o professor votou em 2018, bem como um fragmento do discurso de posse de Jair Bolsonaro.

Gualazzi ainda relembrou de uma antiga aula sua, nomeada “Continência à 1964”, realizada em 2014. Na época, a aula foi interrompida por um coletivo de alunos que protestavam contra a defesa explícita da Ditadura feita pelo professor.

Trecho em que Gualazzi retoma o polêmico conteúdo abordado em aula em 2014  (Arte: Daniel Medina)

Sanfran
Em entrevista ao Jornal do Campus, o diretor da FDUSP, Floriano Neto, explicou que a decisão do afastamento de Gualazzi ocorreu em acordo com o professor e o chefe do Departamento de Direito do Estado. Haveria possíveis problemas de saúde.

O diretor afirma também que acabou aceitando substituir Gualazzi porque seu cargo permite maior flexibilidade. Com o ano letivo em andamento, os outros professores estavam com suas grades horárias definidas.

Marques Neto informou ainda que a Faculdade de Direito abriu processo administrativo interno para apurar o caso de Gualazzi. Questionado se a decisão de instaurar o processo e o afastamento do professor foram demandas dos estudantes acatadas pela diretoria, Marques Neto negou.

Para o diretor, todos os docentes devem ter liberdade de exercício da profissão e a universidade não pode ter acesso prévio ao conteúdo das aulas. No entanto, ele alega rechaçar qualquer manifestação preconceituosa dentro e fora da USP. “Nem escola sem partido, nem escola sem respeito”, afirmou.

Estudantes
O Jornal do Campus não conseguiu contato direto com os alunos presentes na aula inaugural. A diretora do Centro Acadêmico XI de Agosto e estudante do quarto ano do curso de direito, Graziela Jurça, justificou a falta de resposta pelo medo a represálias na faculdade e no mercado de trabalho, o que reforça o ambiente desencorajador para denúncias.

O JC também tentou comparecer à reunião aberta convocada pelos estudantes no dia 28 de fevereiro, mas não teve a participação autorizada por representantes do XI de Agosto. Ainda segundo Graziela, a reunião serviu para elaborar um calendário de mobilização, que inclui outras reuniões agendadas para tratar das perspectivas do caso a longo prazo, uma aula pública sobre Ditadura, além de abaixo-assinado e a realização de um ato na próxima reunião da Congregação da FDUSP.

O JC não conseguiu contato com Eduardo Gualazzi. A FDUSP informou que o professor não possui email e não permitiu a divulgação de telefone para contato. O perfil do docente na plataforma Lattes também não foi encontrado.

Confira a segunda parte da matéria, com a íntegra do texto entregue pelo professor, neste link.