Deputado propõe exame toxicológico para ingresso em universidades

JC checa justificativas do projeto e conclui que nenhuma é embasada em dados ou pesquisas

Por Bruna Arimathea e Júlia Vieira

A terça-feira, 26 de março de 2019, entrará para a História como o dia em que o deputado estadual Gil Diniz, do PSL, apresentou um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa de São Paulo para realização obrigatória de exame toxicológico em aprovados nos vestibulares de universidades estaduais como USP, UNESP e Unicamp.

A entrada e a permanência dos estudantes só ocorreriam mediante resultado negativo no teste toxicológico. O aluno deveria apresentar comprovante de coleta e laudo.

O autor do projeto, Gildevanio Ilso dos Santos Diniz, tem 32 anos e, antes de entrar para a política, era funcionário dos Correios. Crítico ferrenho do PT e do “aparelhamento estatal”, foi apelidado de Carteiro Reaça.

Após a página do Carteiro fazer sucesso o facebook, Gil Diniz se tornou, em 2015, assessor do gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Em 2018 foi eleito deputado estadual por São Paulo com 214.037 votos.

O JC tentou entrar em contato com Diniz por redes sociais e pelo seu telefone pessoal. Não foi encontrado email de sua assessoria, para saber de onde Gil Diniz retirou dados e informações para a estruturação do projeto, mas não obteve respostas.

Dados sobre motivos de evasão foram levantados pela USP no Relatório de Gestão da Pró-Reitoria de Graduação, que contém as metas de 2011 a 2014. “A evasão é multifatorial e envolve razões diversas, como a escolha precoce da carreira”. O Relatório afirma ainda que nem todos os motivos para o abandono dos cursos são claros, mas que a taxa é menor quando os alunos têm atividades práticas e extracurriculares, como iniciação científica. Porém o uso de drogas não é citado como possível motivo de evasão neste relatório.

O JC checou outra fala do deputado, a respeito do uso de drogas dentro da Universidade. Em contato com a Secretaria da Educação, a informação é que não existe nenhum levantamento abordando jovens em idade universitária. Como o projeto só diz respeito a universidades do estado de São Paulo, a edição não entrou em contato com o MEC, responsável pelas universidades federais.

O Inep também declarou que não tem qualquer dado que corrobore com as afirmações do deputado sobre drogas dentro das universidades. Sua fala sobre uma quantidade alta de jovens ter a primeira experiência com drogas durante o ensino superior não tem respaldo, não foi encontrado nenhum dado durante pesquisa.