Raia Olímpica da USP é referência para esportes aquáticos

Apesar de ser única no Brasil, os problemas do muro de vidro têm afetado seu funcionamento

Por Luciana Cardoso

Foto: Ariédhine Carvalho

Para além da polêmica e inacabada obra dos muros de vidro, a Raia Olímpica é um centro de treinamento de referência entre os praticantes das modalidades de remo e canoagem. Inaugurada em 1973, o conjunto esportivo conta com uma estrutura que inclui garagem para guardar os barcos, vestiários, sala de musculação, com equipamentos voltados para o treino dos esportes aquáticos, e pista de corrida.

Por ser um centro exclusivo para práticas esportivas, foi construída levando em consideração as medidas oficiais e especificações necessárias para a prática das modalidades de remo e canoagem, como comprimento, regularidade na profundidade e qualidade da água, balizamento, sinalização e demarcação das distâncias entre as raias e proteção contra os ventos.

Em locais abertos, como mar, lagoa, represas e braços de rio, os praticantes precisam disputar espaço com embarcações e condições que desafiam o treino, como velocidade do vento, profundidade da água e agitação da água.

O espaço é frequentado por alunos da Universidade, que se inscrevem nos cursos semestrais de remo, e por clubes que utilizam a raia como centro de treinamento para seus atletas e paratletas. Os clubes Pinheiros, Corinthians, Paulistano e Bandeirantes pagam pelo aluguel mensal da raia e das garagens para os barcos. A equipe Cepeusp, que também utiliza o espaço, é formada por esportistas que vão desde alunos e professores a atletas sem vínculos com a Universidade.

José Carlos Farah, professor de remo e diretor do Cepeusp, destaca as qualidades técnicas da raia, que dão condições necessárias tanto para o esporte amador quanto para o profissional. “Em termos técnicos, não existe no Brasil um lugar como esse para se treinar”, afirma Farah.

Além do muro

O local também é requisitado para sediar eventos oficiais das modalidades aquáticas mencionadas. Nos dias 30 e 31 de março, por exemplo, a raia foi sede da Copa Brasil de Canoagem Velocidade e Paracanoagem. Nesta primeira grande competição do ano, foram reunidas equipes de estados das regiões sudeste, sul e nordeste.

Nas provas de canoagem velocidade, atletas das categorias infantil, menor, cadete, júnior, sênior e master disputaram as provas de 1.000, 500 e 200 metros. Os paratletas, que competiram nas distâncias 100, 200 e 500 metros, com categorias divididas de acordo com a deficiência.

Na Copa, esses paratletas buscavam a classificação para representar o Brasil no Campeonato Mundial de Paracanoagem, que ocorrerá na Hungria, em agosto. Um mês antes do mundial, a raia também será sede do Campeonato Sul-Americano, Pan-Americano e Copa Brasil de Paracanoagem.

Acessibilidade

Leonardo Maiola, coordenador da paracanoagem na Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), também destaca a estrutura e o suporte do Cepeusp como fundamentais para a prática do esporte e realização de competições. Ele relembra que antes dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a equipe brasileira de paracanoagem utilizava a raia como ponto fixo para treinos.

Vencedor das provas dos 100 e 200 metros da categoria KLT1 (atletas tetraplégicos), o paratleta do Cepeusp, Felipe Pacheco, treina há cinco anos com a equipe e acredita que a estrutura da Raia Olímpica é superior aos locais de treino de outros paratletas. Felipe pontua que a acessibilidade à água é um de seus pontos mais importantes, como rampa e píer. “Tem lugares que tem a água, mas não tem o acesso adequado para nós paratletas”, comenta.

Problemas

Barco-escola é utilizado para aperfeiçoamento técnico e físico. Foto: Ariédhine Carvalho

Pelo menos nos dezoito meses, a raia olímpica é noticiada pela polêmica obra para instalação do muro de vidro. Passado esse tempo, o cartão postal prometido não passa de vidros quebrados e um canteiro de obra abandonado. Nas últimas semanas, veículos jornalísticos noticiaram os impactos deixados pela empreitada: os muros quebrados facilitam a entrada de estranhos na raia, a área de caminhada foi prejudicada e há alguns pontos de erosão. A obra encontra-se parada e as respostas obtidas são tão resistentes quanto os vidros instalados.

Os principais prejuízos ao esporte vêm dos próprios usuários. Durante um dia normal de treino, quando o fluxo diário chega a mil frequentadores, praticantes de diferentes faixas etárias dividem o espaço da raia, sala de musculação e barco-escola, com equipamentos voltados para o aperfeiçoamento do esporte.

Gabriella Kalil, estudante de Esportes da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP e há quatro anos integrante da equipe de remo do Cepeusp, também acha que as dificuldades estão relacionadas com a manutenção, problema enfrentado em vários setores da Universidade. Gabriella critica a falta de cuidados dos próprios usuários, que negligenciam no uso e no manuseio adequado dos equipamentos, principalmente os barcos e os remos, que são caros e que, quando danificados, prejudicam a todos.