Afinal, isso não importa

Arte: Mariana Catacci

Por Júlia Vieira

Essa página que você lê foi diagramada no Laboratório do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP e escrita por uma graduanda, futura jornalista. Todas as páginas foram, na verdade. Alguns computadores travaram enquanto produzíamos essa edição, alguns aparelhos nem tinham os programas que precisávamos.

No entanto, não é de hoje que a produção deste jornal têm sido um desafio. Falta dinheiro, falta estrutura, faltam equipamentos. Mas antes fosse só isso… Algumas vezes, como hoje, é difícil até escrever. Isto porque o Departamento de Jornalismo não contrata professores desde 2013, então como vou fazer algo que nem ao menos eu sei? Ninguém me explicou! Mas ah, me desculpe, nada disso importa.

Mesmo com a decadência dos cursos de “humanas”, como este, o presidente da república e seu novo ministro acreditam que há muito dinheiro nessas áreas que, segundo eles “não geram retorno imediato ao contribuinte”. É desperdício.

O novo ministro pouca (ou nenhuma) experiência tem em Educação, mas é ele quem irá decidir o que importa a partir de agora, ou por algum tempo. Talvez não devêssemos falar nesse tom, pois Jair Bolsonaro acha que a “garotada” não deve interessar por política.

Por outro lado, Suplicy indaga em entrevista para esta edição “o que é política?”. Para mim, o que é política, senão tudo? É impossível existir em sociedade sem ser político. Então o senhor presidente que me perdoe, mas irei falar sobre política sim.

Mas será que irei mesmo? Produção de texto não é importante. Filosofia e sociologia também não. Daqui há um tempo, será que essa Universidade existirá? Quem a habitará? Privatizada, de portas fechadas para aqueles que hoje a ocupam…

Se a medida de descentralizar investimentos na área de humanas for instaurada, uma dezena de matérias deste jornal nem ao menos existiriam. A reportagem sobre Eduardo Girotto, professor da Geografia que mapeou a rede pública de ensino da cidade de São Paulo, por exemplo, não chegaria a ser pauta. Pesquisa de humanas, pra quê?

Talvez nem mesmo este jornal exista daqui alguns anos. Nenhum laboratório, nenhum computador, nenhum professor para aulas que não forem de exatas. Nenhuma palavra, nenhuma página, nenhum artigo de opinião.

E apesar de todos os ataques, essa edição se debruça sobre o tema da educação. A educação luta e resiste, assim como a terceira idade mostra que nunca é tarde para aprender e que o aprendizado muda vidas.

Mas ah, um último aviso: leia enquanto ainda há tempo, pois talvez seu filho não saiba ler, afinal, isso não importa.