Bolsas facilitam intercâmbio universitário

Programas reduzem custos das viagens, mas barateamento pode esconder armadilhas

Por Pietra Carvalho

Arte: Anny Oliveira e Pietra Carvalho

Para muitos estudantes, o intercâmbio é um sonho distante. Dos custos da passagem ao aluguel em outro país, muitos universitários acabam desistindo da experiência. Apesar de ainda ser inviável para muitos, propostas de viagens para preços mais modestos vêm aumentando dentro das universidades públicas nos últimos anos.

A Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) é uma das instituições que oferecem bolsas para programas no exterior, financiando de 10 a 20 mil reais para os alunos uspianos. No entanto, a concessão depende do chamado  “mérito acadêmico”, referente às médias dos postulantes.

Contudo, no início deste mês, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP anunciou uma mudança na Aucani. A preferência passa a ser medida por critérios socioeconômicos.

A pontuação deste sistema será feita pela Superintendência de Assistência Social, a SAS. Este ano, 13 alunos da FAU serão escolhidos pelo critério socioeconômico, uma das pautas de uma greve dos alunos em 2018.

Faca de dois gumes

Outra alternativa com custo baixo são os programas da Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales (AIESEC), organização sem fins lucrativos que propõe viagens “sociais e profissionais”.

A ONG conta com filial na USP, em que trabalham estudantes, conectados com escritórios que operam por todo o mundo. Os interessados pagam uma “taxa de auxílio” para participar de programas de voluntariado ou estágio no exterior, muitos fora da Europa, o plano mais procurado.

Recentemente, a AIESEC foi muito criticada por negligência dos escritórios contratados e pela falta de suporte. Uma matéria do The Intercept reproduziu alguns destes relatos, virando assunto do Desabafa FEA, uma página do Facebook, em que mais pessoas confirmaram os relatos.

A postagem gerou ainda mais rebuliço ao ser deletada a pedido da presidente da AIESEC USP. A ONG se justificou com nota oficial, reconhecendo as “angústias e problemas” relatados e afirmando ainda que estão em “constante processo de amadurecimento.” A ONG informou ainda que está atendendo os estudantes que reclamaram.

Uma delas, Luanne Oliveira, fechou dois contratos de intercâmbio com a AIESEC uspiana em setembro de 2017. Em abril de 2018, a paulista foi surpreendida por uma gravidez e cancelou a viagem. Ela esperou mais de um mês para ter resposta sobre o ressarcimento de 30% previsto no contrato. Mais de um ano depois de cancelar o plano, recebeu mensagem sobre um futuro embarque.

Na página da AIESEC, muitos usuários defendem o trabalho da organização, que oferece mais de 12 mil intercâmbios ao ano. Diante da falta de unanimidade, realizar o sonho de morar no exterior pode ser um perigoso jogo de analisar prós e contras.