Contato de estudantes da USP com crianças sozinhas no campus pode ser inapropriado

Ana Estela Haddad, coordenadora do programa Aproxima-Ação, explica como funciona o projeto que tem o objetivo de acolher esses jovens

Por André Romani

No mês passado, um texto anônimo relatando que estudantes da USP estavam oferecendo e consumindo drogas com menores de idade gerou uma série de comentários indignados no Facebook. Quem frequenta a Cidade Universitária, percebe que diversas crianças e adolescentes circulam pelo campus sozinhos, seja brincando, dando uma volta, ou até envolvidos em situações mais complexas, como a que cita a publicação.

O post gerou debate e discussão entre os alunos. Poucos conhecem, mas a universidade tem um programa para lidar com essas situações. Ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, o projeto Aproxima-Ação é formado por docentes e alunos de diversos cursos, e atua nos campus do Butantã e da USP Leste. Seu objetivo é acolher esses jovens, promovendo, em parceria outras iniciativas de extensão, atividades em horários complementares ao escolar.

Foto: Adriano Vizoni – 17.out.2018/Folhapress

Segundo Ana Estela Haddad, coordenadora do Aproxima-Ação e professora da Faculdade de Odontologia da USP, a maioria dessas crianças e adolescentes vem da comunidade Jardim São Remo, que fica ao lado do Hospital Universitário. E o principal horário em que permanecem sozinhas no campus é depois da escola.

De acordo com ela, a relação entre alunos e esses jovens é prejudicial, mesmo em situações aparentemente inocentes. “Às vezes os alunos estão bem intencionados, mas esse acolhimento não é apropriado”, afirma. “Dar comida, trazer  para usar um equipamento, jogar um jogo, participar de uma festa, todas essas são situações totalmente inapropriadas. As crianças precisam estar na escola ou acompanhadas de responsáveis”, acrescenta a coordenadora.

Segundo ela, a convivência dessas crianças e adolescentes com os estudantes pode levar ao aliciamento por adultos e exposição à situações como o consumo de drogas . Além disso, pode tirar o interesse dos ambientes escolares.

Abertura e fechamento

O debate sobre a presença de crianças no campus também envolve uma questão há muito tempo abordada por estudantes e docentes: a abertura da universidade para a população como um todo, principalmente de comunidades ao redor da universidade.

Para Haddad, no entanto, o problema é como ocorre essa relação. “A ideia não é afastar essas crianças. O campus está aberto, existe uma série de programas para o horário complementar ao escolar”, afirma ela.

“Isso é a universidade fazendo a aproximação dentro daquilo que é sua missão. Não é frequentando centro acadêmico e festas, por exemplo”, complementa  a coordenadora.

O Jornal do Campus conferiu na quinta-feira, 23, uma das atividades do Aproxima-Ação. O projeto levou as crianças para assistir um concerto didático da Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP). Com o nome de Dominó Sinfônico, o espetáculo mistura teatro e música, apresentando Mozart, Beethoven e outros músicos.

Segundo dados do programa, sua atuação atingiu cerca de 1775 crianças no campus do Butantã, em 2018. Além disso, ocorreram 30 visitas domiciliares, em casos mais complexos. A coordenadora, no entanto, reitera que apesar dos resultados, ainda existem casos no campus sem acompanhamento do projeto, ou de jovens que são monitorados mas ainda não foram integrados.

Para quem presenciar alguma das situações relatadas na matéria, o telefone de contato do projeto é (11) 3091-9182.