Futebol Americano no Brasil conquista jardas na vida universitária

Aumento na audiência da NFL impacta diretamente no crescimento dos times uspianos

Por Bruna Arimathea

Sunday Night Football. É familiar para você? As noites de domingo, nos últimos anos, se jogam com uma bola diferente da que os brasileiros cresceram jogando. O futebol americano, protagonizado na TV com a National Football League NFL ganhou espaço nas casas verde e amarelas e, apesar de ser transmitido no país há mais de 20 anos, apresenta seu maior índice de crescimento na última década, com a audiência aumentando exponencialmente a cada temporada.

O sucesso, é claro, se reflete no ambiente universitário. Na USP, onde é possível estimar que 6 em cada 10 alunos venham de escola particular, não é difícil imaginar que o acesso a TV a cabo estivesse presente na vida cotidiana. O que tem a ver? Jogos e mais jogos e o crescente interesse pelo futebol americano nasce aí, na tela da sala de estar.

Segundo João Palomino, vice-presidente de jornalismo e produção da ESPN no Brasil, emissora que transmite a NFL, a audiência quadruplicou no país desde 2010. Outro levantamento, do Ibope Repucom, aponta que cerca de 48% do crescimento na audiência está na conta de jovens de 18 a 24 anos.

A USP conta com dois times de fundação recente, coincidindo com o boom do esporte no país. A modalidade praticada é o flag football, uma variação do futebol americano comum entre as equipes universitárias.

O Politécnica Rats foi criado em 2011 por alunos da engenharia que acompanhavam a liga norte-americana pela televisão mas, com demanda, já abrange todo o público masculino da universidade. O time conta com aproximadamente 40 jogadores, sendo 25 da Poli e 15 de outros institutos.

O mesmo acontece com a equipe feminina, USP Red Pandas, que, na onda da modalidade, teve seu início em 2015. Apesar das dificuldades de começar uma nova equipe, ambos os times já alcançam bons níveis de treino graças à adesão dos alunos.

“A modalidade foi criada de um jeito despretensioso. Reunimos meninas que conheciam o futebol americano e fundamos o time. No início, era bastante dependente do Politécnica Rats. Eles nos ajudaram a estruturar o time, fornecendo alguns materiais para treinarmos e até dando os próprios treinos. Foi só de uns dois anos para cá que nos tornamos completamente independentes do time masculino”, afirma Sara Ferrarini, estudante do terceiro ano de engenharia de minas, na Poli, e diretora de modalidade do Red Pandas.

Jovens se tornam o principal público da NFL no Brasil. Arte: Giovanna Jarandilha.

E se, por um lado, parece pouco apenas dois times atuarem na USP, por outro, é possível observar a difusão e a alta demanda dessas equipes nas competições. O Red Pandas, por exemplo, teve sua primeira atuação em campeonatos somente em 2016 mas, desde então, contou com diversas mudanças na postura e no placar. As meninas somam jogos amistosos e competições quase em todos os meses do ano.

O Poli Rats ganhou em organização: em dois anos, a porcentagem de vitórias dobrou, além do apoio da atlética e da melhora nas condições de treino. A maior popularidade do esporte televisionado possibilitou muitas portas abertas para acolher as mudanças necessárias.

“No nosso treino aberto no início do ano participam por volta de 20 a 30 calouros. Cerca de 10 a 15 ficam no time. Temos melhorado bastante no quesito de organização e isso tem ajudado bastante o time. Em 2017 a gente teve uma vitória e cinco derrotas no campeonato  paulista. No ano passado foram quatro vitórias e duas derrotas, fomos para os playoffs”, pontua Guilherme Ludescher, diretor de modalidade do time e aluno do quarto ano de engenharia de computação.

Virando coisa séria

A criação da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) também é um indício do impacto que o esporte tem no Brasil recentemente. Fundado em 2000 sob o título de Associação de Futebol Americano do Brasil, o órgão foi repensado e instituído como CBFA em 2013. O esforço foi resultado da necessidade de regulamentar e adequar o que por aqui vem crescendo em escalas norte-americanas.

Com a expansão além dos campos profissionais, a necessidade da normalização das atividades universitárias também obrigou a criação de uma entidade diretamente envolvida nas suas competições. A Liga Universitária de Futebol Americano (LUFA) nasceu em 2013, com a ambição de juntar todas as equipes da categoria em um só torneio.

O técnico do Red Pandas, Danilo Ribeiro, classifica essa organização como um dos atrativos para a consolidação da tendência de crescimento dos times. “Percebo como os campeonatos estão sendo melhor organizados, com trabalhos de capacitação que a CBFA vem trazendo. São mais pessoas praticando a modalidade. Existe a paixão do brasileiro pelo futebol americano, inclusive pelas mulheres, e a porta de entrada para praticar o esporte é o flag football”.

Ao encontro da participação feminina, o Ibope Repucom também coloca as mulheres como público crescente do esporte na TV: o aumento da audiência entre elas foi cerca de 18% maior que no ano passado com a NFL.

A repercussão a atração americana na TV é tanta, que teve gente migrando do universitário para o profissional. É o caso de Ivan Stamborowski, aluno do quarto ano de engenharia química, que depois da passagem pelo time da USP, resolveu treinar com a equipe da Portuguesa, o Lusa Lions.

Apaixonado por futebol americano desde 2013 e torcedor fiel do San Francisco 49ers  equipe cinco vezes campeã da NFL  Ivan conta que o primeiro contato, ainda com o time universitário, foi por conta do interesse prévio pela liga estadunidense. “Quando soube que tinha time de futebol americano na usp me interessei logo de cara! O ambiente é muito bom para aprender mais sobre o esporte”.

O convite para jogar pela Portuguesa veio a partir do técnico dos Rats, que também atuava no time. “Eu nunca havia pensado em jogar futebol americano fora até aquele momento, mas me senti reconhecido e aceitei o convite. Sempre fui competitivo, e quando recebi a notícia de ter sido aprovado, sabia que os treinos extras com ótimos jogadores me ajudariam a melhorar e ser um melhor jogador também no Rats, além de buscar a evolução na própria Lusa”.