Pesquisa em São Carlos é escolhida para receber R$ 1 milhão

Várias áreas serão mobilizadas para desvendar sistemas em interação

Por Daniel Medina

Tiago Pereira, do ICMC, teve pesquisa selecionada entre milhares de candidatos. Foto: CEMAI/Reprodução

Tiago Pereira é graduado em Física pelo Instituto de Física da USP e tem doutorado em Matemática Aplicada na Potsdam Universitaet, na Alemanha. Realizou cinco pós-doutorados em universidades brasileiras e do exterior. Atualmente, é professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP de São Carlos (ICMC). O projeto de pesquisa de Tiago foi escolhido para receber verba de R$ 1 milhão pelo Instituto Serrapilheira.

A pesquisa pretende entender o funcionamento de sistemas dinâmicos não-lineares e, a partir disso, desenvolver uma teoria matemática. Sistemas dinâmicos são aqueles que evoluem conforme uma regra e sua dinamicidade ocorre pela interação com o entorno. É possível pensar em um neurônio como exemplo.

Através das sinapses, entende-se isoladamente seu funcionamento, mas a pesquisa tenta entender o que ocorre quando esse neurônio interage: “Pequenas modificações podem levar a resultados muito diferentes. Temos bilhões de neurônios que conversam entre si. O desafio é entender o conjunto de regras”, explicou em entrevista ao JC.

Pesquisando interações

A audaciosa pesquisa de Tiago pode trazer diversos benefícios, pois ao entendermos o funcionamento padrão de um sistema e como pode evoluir, é possível captar transições indesejadas.

O funcionamento do coração, por exemplo, se dá pelas células que atuam em conjunto para levar sangue ao corpo. Alguma falha na interação pode levar a resultados indesejáveis para o organismo. Pela pesquisa, isso poderia ser previsto: “Quando você vai ao médico, ele te receita um remédio que não é específicamente para você e pode gerar diferentes efeitos. Com os resultados, seria possível criar regras específicas, um tratamento direcionado a você e seu problema”, comenta Tiago.

O grande desafio, porém, está justamente na imprevisibilidade do que é analisado: “Não é possível prever a taxa de sucesso, não é uma pesquisa tradicional que se enquadra nos padrões de financiamento comuns, precisamos de várias áreas, e de diferentes formas de experimentação”, destaca. Devido à imprevisibilidade da pesquisa, a verba do Instituto Serrapilheira se faz essencial.

O financiamento possibilitará liberdade de experimentação: “Precisamos de profissionais de muitas áreas para conseguir desenvolver a pesquisa, não só da Matemática, e testar diferentes caminhos que não necessariamente trarão resultados”, explica.

Para Tiago, no contexto brasileiro, além da verba (da qual R$ 700 mil são de uso livre), incentivos podem gerar discussão a respeito da importância da educação: “Parte do dinheiro, trezentos mil reais, é destinado à inclusão de profissionais de minorias nas equipes, por exemplo. Essa inclusão é muito importante. A educação é peça chave para o desenvolvimento do país para além dos termos econômicos que tanto são discutidos.”

O Serrapilheira, que vai financiar a pesquisa em São Carlos, é uma instituição de incentivo à ciência para financiamento de trabalhos de excelência. Tiago foi selecionado entre mais de 2000 concorrentes, após pré-seleção de 60 projetos e acompanhamento ao longo de um ano, além de julgamento por centros de referência e um comitê científico internacional.