“Temo por todos que ficam à mercê da USP”

Escritório de Saúde Mental não é eficiente para comunidade uspiana

Por Jade Rezende

Em setembro do ano passado, um repórter do Jornal do Campus foi atrás do então recém inaugurado Escritório de Saúde Mental (ESM) da USP. Foram detectadas falhas, inclusive na dificuldade de marcar atendimento. Oito meses depois, o JC foi atrás do Escritório e de alunos que usaram o serviço para verificar os avanços, mas constatou retrocessos.

‘Saí de lá e tive uma crise muito forte’

Uma aluna da USP, que preferiu não se identificar, relatou ao Jornal do Campus sua experiência no ESM no ano passado, após sua primeira tentativa de suicídio. Ela conseguiu ser atendida depois da mãe entrar em contato com o coordenador do Escritório. Foi dito que eles teriam uma primeira conversa para verificar se a aluna se encaixava no perfil do grupo recém formado de terapia sobre suicídio.

A aluna, entretanto, não viu efetividade na consulta com o psicólogo — pelo contrário. “Ele, de fato, foi muito educado. Mas não serviu para nada. Me senti em uma pesquisa para coleta de dados. Ele quis saber toda a minha história de vida, o problema, quando entrei na USP, o que achava da faculdade, como era meu desempenho no curso, que remédios tomava e etc”.

A universitária ainda conta que teve uma crise muito forte ao deixar o atendimento e que o psicólogo nunca mais entrou em contato para fazer um acompanhamento. “Fico muito triste por não ter conseguido de fato um apoio. Por sorte, tenho uma mãe que me apoia muito e consegui buscar ajuda profissional por fora da USP, mas temo por todos aqueles que não tem essa possibilidade e ficam à mercê da Universidade”, desabafa.

Problema estrutural

Augusto Pessin, advogado da Associação de Moradores do Crusp (Amorcrusp), conta que o Escritório de Saúde Mental, criado para toda a comunidade da USP, apresenta falhas desde a sua criação. A ata da reunião do comando de greve, quando o pró-reitor Edmund Chada Baracat se comprometeu a criar o órgão, nunca foi assinada por ele. Além disso, não é possível ter acesso a dados oficiais de como tem sido realizado o serviço no ESM, o que dificulta o acompanhamento.

Apesar de Augusto saber, através de relatos de alguns moradores do Crusp, que atendimentos iniciais do serviço tiraram pessoas de ciclos de depressão, ele acredita que é apenas o começo. “Isso denota a importância do serviço, mesmo que ainda seja pequeno, mas o que tudo indica é que ele precisa crescer e ganhar força”, finaliza.