Transdisciplinaridade é essencial para avanço econômico e social

Visão isolada de disciplinas coloca o Brasil na retaguarda do debate científico e pedagógico

Arte: Daniel Medina

Por Daniel Medina

Os ataques sucessivos à educação e pesquisa não surpreendem quem lê o JC: nesta edição, por exemplo, a redação aborda a CPI das Universidades e outros prejuízos com cortes de verbas. Além deles, áreas  de conhecimento são priorizadas, na contramão dos desenvolvimentos científicos, educacionais e pedagógicos recentes.

Está na transdisciplinaridade um elemento fundamental na promoção do desenvolvimento científico que considere aspectos não só econômicos, mas socioambientais e de governança. Essa é a opinião da docente Sonia Maria Barros de Oliveira, do Instituto de Geociências, proferida durante evento no IEA, em 7 de maio.

Para entender melhor a importância da visão transdisciplinar, Sonia destacou a questão ambiental em entrevista ao JC. “Para tratar do ambiente, você tem que considerar a dimensão natural e a humana. A ciência da sustentabilidade é uma ciência transdisciplinar por essência”. Segundo a docente, estudos que considerem reduzir os impactos ambientais devem, necessariamente, entender as transformações sociais da ação humana em conjunto com os biológicos.

Por que transdisciplinaridade?

A ideia é relacionar áreas diferenciadas enquanto potencializadoras da experiência científica, de maneira a expandi-la: “A transdisciplinaridade só vai avançar mais à medida que a ciência seja colocada a responder a desafios. Isso está sendo feito em diversas áreas no Brasil, como meio ambiente e alimentação”, disse Ricardo Abramovay professor titular do IRI e da FEA.

A priorização de uma área em detrimento da outra é preocupante e, segundo Abramovay, refere-se à “rejeição da ciência que o governo faz de propaganda. Rejeita elementos científicos essenciais e os considera secundários. Isso coloca o Brasil na retaguarda”.

Pensar inter, trans e polidisciplinar

O título desta reportagem faz referência a um capítulo do livro de Edgar Morin, A Cabeça Bem Feita. Nele, o autor discorre a respeito da transdisciplinaridade das ciências. Para além da necessária visualização dos números, das estatísticas e do risco que os cortes evidenciam para a pesquisa brasileira, o governo parece também ignorar aquilo que é a tendência mundial para o ensino: aplicação e debate científico.

Mais do que isso, nas ciências “é necessário levar em conta tudo que lhes é contextual, inclusive as condições culturais e sociais. As ciências nascem, levantam problemas, ficam esclerosadas e transformam-se”, pauta Morin.