Congresso da UNE: Quem a USP elegeu para disputar a entidade?

Conheça as propostas das chapas eleitas para os próximos anos da União Nacional dos Estudantes

Por Bruna Caetano

No início deste mês aconteceu a eleição de chapas para o 57º Congresso na União Nacional dos Estudantes (Conune), que acontecerá em julho, em Brasília, para escolha da próxima diretoria. O Jornal do Campus ouviu as propostas das chapas e como avaliam a atuação recente da UNE.

É no congresso que deve ser escolhida a próxima diretoria da entidade, através dos delegados representantes das chapas eleitas nas instituições de ensino em todo o país. A quantidade de delegados que cada chapa tem direito é definida a partir da proporção entre número de alunos da universidade versus votos obtidos pela chapa. As diretrizes para os próximos dois anos devem ser definidas a partir do congresso.

Atualmente, a UNE é composta, em sua maioria, pela chapa “Frente Brasil Popular: A unidade é a bandeira da esperança”. Ela engloba partidos e movimentos sociais, como juventudes ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Levante Popular da Juventude.

A principal crítica parte de cinco das seis chapas eleitas. Exceto a Nossa Voz, todas as demais apontam que a entidade foi acrítica aos governos petistas. A UNE também teria se distanciado dos estudantes, posição retomada apenas após o impeachment de Dilma Rousseff.

Nossa Voz (PT, Levante Popular da Juventude, PCdoB)

Para Paulo Vicente, do curso de Artes Cênicas, “no período recente, a UNE esteve presente como uma das principais lideranças nas manifestações contra o golpe de 2016, ‘Ele Não’ e contra os cortes na educação”.

Ele avalia que o desafio para o próximo período é tornar o movimento estudantil massificado, atuando na sociedade através da luta em defesa da educação e das universidades públicas. A chapa propõe programas de organização dos estudantes para extensão, como cursinhos populares, assim como mecanismos de ingresso e permanência.

É na Luta que a Juventude se Encontra

Para Igor Galvão de França, do curso de Gestão de Políticas Públicas, a UNE não mobilizou os estudantes contra cortes na educação nos governos petistas e falhou em dar respostas ao congelamento de investimentos na saúde e educação.

A chapa propõe a democratização da entidade e a popularização das universidades, desde as formas de acesso, até paridade nos conselhos institucionais.

UNE sem medo

Thales Migliari, do curso de Ciências Sociais, critica: “A direção da entidade se colocou contra inúmeras mobilizações estudantis que tinham reivindicações progressistas.” Deliberações de entidades como a UNE deveriam acontecer com a presença dos estudantes.

A chapa defende ainda que a entidade faça campanhas na rua. “A gente construiu desde o ano passado as brigadas em defesa da democracia, que foram grupos que se organizaram para panfletar nos terminais de ônibus, metrô e trem para conversar com a população sobre as ameaças do governo Bolsonaro. Fizemos isso recentemente também. É nesse sentido que a entidade deve atuar.”

Arte: Júlia Vieira

São Eles ou Nós – Que os Capitalistas Paguem Pela Crise

A chapa de Clara Gomez, estudante de Pedagogia, avalia que a UNE “segue apostando numa política de conciliação”. Seria necessário colocar os estudantes como protagonistas junto à classe trabalhadora contra, por exemplo, os cortes na educação.

A chapa defende a revogação desses cortes e outras pautas como o fim do vestibular e do pagamento da dívida pública do Estado. “Queremos retomar a UNE para as mãos dos estudantes, para que o movimento estudantil possa se colocar como um ator na política nacional ao lado dos trabalhadores”, diz Clara.

Um Grito de Rebeldia

Débora Duarte, da História, defende junto à sua chapa que “o projeto de fundo direção da UNE é de conciliação de classe. Está mais preocupada com o ‘Lula Livre’ do que com a reforma da Previdência”.

Débora acredita que os estudantes devem estar unidos diante do governo Bolsonaro, mas falta um projeto maior. “Vamos para o Conune para levar propostas de transformação completa da entidade, exigir a mobilização dos estudantes em unidade com os trabalhadores, por uma entidade combativa, democrática, pela base. Que seja capaz de derrotar a direita mas que não repita os erros do PT e do PCdoB”.

Educação Pública e Gratuita para Todos! Fora Bolsonaro

Para a chapa de Evelin González, do curso de Letras, “a direção da UNE freia a mobilização dos estudantes, apesar de ter convocado os atos”. A UNE deveria se voltar para a defesa da universidade pública e gratuita, entre outras pautas.

“Queremos mobilizar os estudantes para que eles, de fato, participem da UNE, para que de fato se torne uma entidade democrática, que dialoga com a base. Além disso, consideramos importante impulsionar o Fora Bolsonaro como forma de mobilizar os estudantes, na perspectiva de organizar a classe trabalhadora e, especialmente, a juventude”.

A quantidade de delegados de cada chapa é definida a partir da proporção entre número de alunos da universidade versus votos obtidos. Atualmente, a UNE é composta, em sua maioria, pela chapa “Frente Brasil Popular: A unidade é a bandeira da esperança”. Ela engloba juventudes ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Levante Popular da Juventude, Consulta Popular e Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Na USP, a chapa com maior número de votos para o Conune foi a Nossa Voz, com 4096 votos, o que dá direito a 35 delegados no Congresso, seguida por É na Luta Que a Juventude Se Encontra (1588 votos, 14 delegados), UNE Sem Medo (1044 votos, 9 delegados), São Eles ou Nós – Que os Capitalistas Paguem Pela Crise (206 votos, 2 delegados), Um grito de rebeldia (112 votos, 1 delegado) e Educação Pública e Gratuita para Todos! Fora Bolsonaro! (67 votos, 1 delegado).

Especial Edição 500

Aqui está presente o protesto estudantil

Por Pietra Carvalho

Este jornal é feito por alunos do período noturno da USP, neste semestre. Muitos deles entraram na faculdade trabalhando durante o dia e talvez não poderiam estar aqui se, há 31 anos, outros estudantes não tivessem se oposto à extinção do vestibular para os cursos noturnos de Jornalismo e Biblioteconomia, conforme noticiou o JC na matéria “ECA em greve pelo noturno”.

No dia 18 de maio de 1988, os discentes da ECA-USP começaram uma greve contra a proposta, defendendo que sua aprovação aumentaria a elitização da universidade. O Departamento alegou problemas na infra-estrutura para manter as aulas à noite.

JC 74 – Maio/1988

Naquele mesmo ano, a diretoria da tradicional União Nacional dos Estudantes, a UNE, enfrentava a desconfiança. O movimento estudantil estava dividido entre partidos. De um lado, os petistas, líderes do grupo. De outro, a oposição, do Partido Comunista do Brasil, o PC do B.

O 39ª Congresso da UNE, realizado entre os dias 7 e 10 de outubro, começou com um dia de atraso pela polêmica sobre o credenciamento dos delegados. Uma suposta ilegalidade na escolha tomou quase todo o tempo, impedindo discussões previstas na agenda inicial.

Ao analisar as denúncias, a comissão diretora não concordou com as fraudes alegadas. Para tentar resolver o impasse, a oposição exigiu a convocação de um conselho, que começou seus trabalhos na madrugada e endossou a decisão da diretoria. A oposição não concordou com o resultado e pediu sua anulação.

Conforme reportagem do JC, “com a quadra dividida, as discussões sobre ensino foram esquecidas. Ficou a expectativa de um confronto direto entre as duas correntes”. É uma frase de 1988. Será que ela valerá para as eleições da UNE em  2019, cuja escolha dos delegados reportamos acima?