Escolher e sustentar

Na sexta-feira, dia 31 de maio, fui surpreendida por um e-mail da Ana Estela Haddad, coordenadora do programa Aproxima-Ação, vinculado à Pró Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. No e-mail, Ana Estela critica uma das matérias que foi publicada na última edição do Jornal do Campus contendo uma entrevista dela.

A reportagem criticada repercute um texto anônimo postado no Facebook relatando que estudantes da USP consomem drogas com menores de idade dentro do Campus. Ana diz “Me surpreendi ao perceber que o texto redigido da forma como está, presta-se mais a atrair a atenção do leitor por aquilo que está inapropriado, do que propriamente informar sobre ações, programas e o papel da universidade no caso em questão.”  Em linhas gerais, as ações do programa que Ana Estela coordena buscam fazer uma interlocução entre Universidade e comunidade e atender demandas sociais comunitárias, com foco em crianças e adolescentes.

Ana continua: “Para o leitor que não conhece o assunto, fica a impressão de que a circulação de crianças e adolescentes desacompanhados é o que predomina, quando conforme eu procurei deixar claro na entrevista, há algumas situações localizadas, que são complexas e tem sido endereçadas naquilo que cabe à universidade. E ao mesmo tempo, há um contingente bem maior do que o desses casos, de crianças e adolescentes que são beneficiados pelo Programa Aproxima-Ação.”

De fato, a reportagem em questão tem problemas. Ela não traz nenhum elemento concreto como prova. Além do texto anônimo, há apenas um vago trecho “Quem frequenta a Cidade Universitária, percebe que diversas crianças e adolescentes circulam pelo campus sozinhos, seja brincando, dando uma volta, ou até envolvidos em situações mais complexas, como a que cita a publicação.” Essa observação, sem maiores detalhes, não tem a consistência necessária para dar veracidade ao fato. Faltou trabalho de reportagem: observação sistemática para saber qual é o volume de crianças desacompanhadas, onde elas se concentram em maior número, de onde elas vêm, porque estão desacompanhadas, etc.

Acho legítimo Ana Estela se posicionar criticamente quanto ao texto, mas há de se entender que não é possível redirecionar uma reportagem sobre a questão dos menores desacompanhados para uma reportagem sobre o Aproxima-Ação. Os jornalistas devem ter autonomia para a escolha dos temas e do direcionamento da reportagem, se não correm o risco de reproduzirem releases e transformarem suas reportagens em textos institucionais.