O último capítulo do SIBi

Logotipo do SIBi foi removido da entrada do órgão e dará lugar ao Augia / Gabriel Araujo

Projeto da reitoria, transformação em agência vai ao Conselho Universitário no fim do mês

Por Gabriel Araujo e Ligia Andrade

Desde a primeira quinzena de junho, o Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi-USP) passa por mudanças e irá se transformar em Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (Augia). O professor Jackson Bittencourt, médico, foi o escolhido para liderar o projeto como chefe do Departamento Técnico. Apesar de a iniciativa seguir para o Conselho Universitário no final deste mês, bibliotecários, alunos, professores e funcionários do SIBi gostariam de ter mais detalhes, o que tem gerado apreensão.

O SIBi atua como aglutinador das bibliotecas, da gestão de informação e da produção intelectual da USP, mantendo os acervos bibliográficos físicos e virtuais. A intenção da USP é maximizar os trabalhos e alterar seu formato

Os funcionários do SIBi ouvidos pela reportagem querem saber mais sobre as mudanças. O chefe da divisão de Gestão de Projetos do SIBi e ocasional substituto de Bittencourt no Departamento Técnico, Laucivaldo Cardoso de Oliveira, disse que o projeto ainda passa por consultas. Por isso, não teria sido totalmente revelado aos colaboradores do SIBi, sendo discutido apenas na “alta gestão” da Universidade.

Oliveira garantiu que não haverá reduções de cargos com a criação da agência, que “vem para somar”. Ele  atribuiu as críticas à ansiedade dos bibliotecários.Ninguém terá que ir para São Carlos, como já me perguntaram.”

Segundo Oliveira, a Augia apenas dinamizaria as bibliotecas – algumas sequer precisariam alterar seus modelos, mas ele não disse quais. Procurado, Jackson Bittencourt pediu tempo para detalhar as mudanças, afirmando que a proposta ainda está sendo discutida. “Prefiro esperar a portaria publicada no Diário Oficial”, disse ao JC

“Estamos trabalhando em várias frentes, e também por isso peço um pouco mais de tempo para dar a entrevista.” Jackson deve apresentar a proposta final ao Conselho Universitário (Co) em 27 de agosto. Há quem considere a transformação em agência como definitiva, pois não caberia ao CO anulá-la. 

A reportagem obteve o “Power Point” utilizado por Bittencourt em sua apresentação para a alta gestão da Universidade. Apesar do pouco detalhamento, nele são citados propostas para a agência, chamadas de “novo modelo conceitual”.

 

Projeto é similar ao existente

Segundo ex-funcionário do SIBi, o projeto apresentado como “inovador” por Jackson Bittencourt parece reforçar características do sistema atual. A fonte indica que a criação da agência poderia aglutinar órgãos e escritórios da Universidade e pessoas a par do assunto chegam a dizer que, com as mudanças, a USP passaria a ser uma das poucas instituições do mundo a não ter a palavra “biblioteca” em seu regimento.

Há também nos slides de Bittencourt a menção de que a Agência passaria a ser responsável por dar visibilidade às atividades dos pesquisadores. Por determinação da reitoria, quem faz esse trabalho é a Superintendência de Informação e Tecnologia (SIT-USP). Para que a proposta fosse levada adiante, seria necessário esvaziar a competência da Superintendência e anexá-la à futura agência. 

Ainda em sua apresentação, Bittencourt teria mencionado Harvard como base para a proposta de inovação. O contraponto do especialista ouvido pelo JC, porém, é de que a aplicação da ideia norte-americana pela USP estaria “atrasada quase 20 anos”, tendo sido desenvolvida pela instituição de Massachusetts em 2003

O Escritório de Comunicação Acadêmica da Universidade de Harvard faz parte do Sistema de Bibliotecas, e não de uma agência, como lembrado na reunião do Conselho Técnico Administrativo da FFLCH, transmitida no Youtube em 1º de agosto, em debate entre a bibliotecária Adriana Ferrari e a diretora da faculdade, Maria Arminda.

Foi informado à reportagem que o Conselho Supervisor do SIBi, responsável por auxiliar a tomada de decisões do chefe de Departamento Técnico, não foi constituído desde o ano passado. “É como se não existisse congregação. Como que um técnico vai tomar grandes decisões sem um colegiado?”, questionou a fonte.

Procurada a pedido do Gabinete do Reitor, a assessoria de imprensa da USP afirmou que “o projeto está em fase de desenvolvimento e ainda não dispomos de informações mais detalhadas sobre o assunto.”

 

Funcionários questionam nomeação de médico para coordenação

Resolução obriga bibliotecário em chefia

Os questionamentos dos funcionários das bibliotecas começaram antes mesmo da proposta da Agência, com a indicação de Jackson Bittencourt para a chefia do Departamento Técnico. O fato de o novo chefe do SIBi ser médico de formação e sem carreira na Biblioteconomia, incomodou os bibliotecários.

Mesmo que a nomeação seja anulada legalmente, fontes no SIBi garantem que a ideia de transformar o órgão em uma agência será mantida.“Eles queriam destruir o SIBi, mas fizeram as coisas na ordem inversa”, desabafou uma fonte.

Conforme o surgimento da proposta da Agência, a apreensão dos bibliotecários cresceu. “A gente não sabe o que está acontecendo”, conta Marina Macambyra, bibliotecária da Escola de Comunicações e Artes (ECA). “Ninguém participou da elaboração dessa proposta e não houve reunião do novo chefe, professor Jackson, com a chefia das bibliotecas, o que imaginamos que seria um procedimento comum”, acrescenta, classificando sua categoria como “preocupada” com os rumos do SIBi.

O SIBi confirma que a reunião com as bibliotecas não aconteceu, garante que os profissionais serão consultados e que há visitas técnicas agendadas a bibliotecas. Com o a data do Conselho Universitário se aproximando, entretanto, os funcionários temem que não possam discutir oficialmente o assunto. 

Segundo Laucivaldo Oliveira, o novo chefe “realmente ainda não fez essa reunião com as equipes, por um motivo muito simples: ele não é da área, foi demandado para ele uma nova proposta da reitoria e ele está conhecendo o sistema para poder realizar a proposta”, diz, em uma menção à carreira de Bittencourt fora da Biblioteconomia, retomando as críticas iniciais dos bibliotecários. “Ele poderia falar ‘oi’ só nessa reunião e, até por uma falta de tempo, não achou produtivo.”

Departamento Técnico, não foi constituído desde o ano passado. “É como se não existisse congregação. Como que um técnico vai tomar grandes decisões sem um colegiado?”, questionou a fonte.

Procurada a pedido do Gabinete do Reitor, a assessoria de imprensa da USP afirmou que “o projeto está em fase de desenvolvimento e ainda não dispomos de informações mais detalhadas sobre o assunto.”

Até abril de 2010, o cargo de chefe do SIBi precisaria ser ocupado por um bibliotecário do sistema. Uma resolução assinada pelo reitor João Grandino Rodas, no entanto, alterou a norma. A resolução 5846, de 30 de abril de 2010, aponta que “o Reitor escolherá o Diretor Técnico do SIBi/USP”, mas não revoga o artigo 4º, capítulo II, da resolução 5776, de 17 de agosto de 2009, que diz que “O Departamento Técnico será dirigido por um Bacharel em Biblioteconomia diretamente subordinado ao Reitor.”

De acordo com o SIBi, a indicação de Jackson Bittencourt ao cargo está sendo avaliada em instâncias legais.