Sistema de cotas sociais não prevê desigualdades da rede pública

Alunos de escola pública ainda enfrentam disparidade no sistema de cotas / Marcos Santo – USP Imagens

Escolas técnicas têm a dianteira, mas desafios persistem para todos

Por Isabella Velleda

Em 12 de agosto, iniciaram-se as inscrições para a Fuvest 2020. Agora, a Universidade de São Paulo está a apenas um ano de distância de cumprir a sua meta de cotas: até 2021, metade dos ingressantes deverá vir de escolas públicas. Ano que vem, a expectativa é de que serão 45%. Apesar da inegável inclusão, as disparidades entre as próprias unidades públicas não são discutidas.

Em 2018, aproximadamente 80% das vagas da universidade foram preenchidas por meio da Fuvest. Entre eles, segundo o Anuário Estatístico da USP, em média 1 a cada 3 ingressantes da rede pública estudou em escola técnica – considerando só o estado de São Paulo, em que os estabelecimentos públicos são menos desiguais, a proporção é de aproximadamente 1 para 25.
“A minha escola, por mais que fosse uma escola pública, era elitizada”, diz Carolina Vaz, ex-aluna da ETEC Guaracy Silveira e caloura de arquitetura na FAU. Ela estudou em escolas particulares no ensino fundamental, mas passou para a rede pública para ajudar a família a pagar as contas.

“Eu tenho noção de que eu fui muito privilegiada lá dentro.” Vaz conta que, apesar da algumas defasagens, os professores garantiam a qualidade. “Muita gente do Guaracy hoje em dia tá em faculdade pública, na USP, UNESP. O meu irmão faz colegial numa escola pública comum e não chega nem aos pés.”


Esforços coletivos
Os programas de inclusão social da USP têm como principal finalidade calibrar a universidade com a realidade brasileira ou, ao menos, com a realidade paulista. O sistema de cotas raciais, por exemplo, é baseado nos dados do último censo do IBGE referentes à população parda, preta e indígena paulistas. São 37,5% que incidem sobre as cotas sociais.
Por isso a meta da USP estabelecida para 2021, de ingressarem metade de calouros vindos do ensino público, está longe de representar os mais de 80% de estudantes do ensino médio paulista nos estabelecimentos de ensino estatais.

A USP está mais longe ainda está garantir que todas essas vagas sejam preenchidas — tendo em vista as altas notas de corte estabelecidas pelo vestibular — e que nelas exista uma proporcionalidade correta entre alunos de escolas públicas técnicas e comuns.

Os esforços institucionais não são os únicos visando nivelar essa disparidade. O Projeto Redigir, por exemplo, é um curso gratuito de redação e comunicação realizado por alunos da USP. Como conta Letícia Shine, coordenadora do RH e educadora do Redigir, “o nosso único critério de seleção é o critério socioeconômico, por isso a gente tem uma grande entrada de alunos de escola pública.”

Apesar de não ser voltado para o vestibular, o Redigir recebe uma grande parcela de vestibulandos todo ano — a maioria de escolas públicas comuns, mas também de escolas técnicas.