E…

Por Guilherme Roque

Arte: João Generoso

Eufórico no carro, cheguei lá. E então soube que não ia te ver mais. E tudo ficou preto. E eu fiquei surdo. E não havia cheiro. E a única coisa que funcionava na minha cabeça era aquela música que você gostava.

Chegando em casa, enxerguei o amarelo gasto daquele velho sofá que você havia me dado, e virou meu barquinho particular. E, mesmo tendo visto o mar diversas vezes, naveguei por águas nunca experimentadas. Havia ilhas com jardins de orquídeas, de mais variadas cores, do vermelho ao azul claro, que você tanto gostava de cuidar.

E como uma orquídea, na valsa de sabores e pensamentos, brotava o que eu ia carregar e nutrir por toda minha vida: uma saudade que machuca e dá prazer. Uma saudade sincera, o desejo de nunca ter experimentado esse oceano de sofrimento.