Na USP há atletas das árvores e dos sacos de cimento

Em uma volta pelo campus, o JC encontra trabalhadores que fazem esforços físicos iguais ou superiores a atletas profissionais

Por Eduardo Passos

Funcionários do campus da USP são atletas de poda de árvores. Crédito: Carolina Fioratti

Em suas mais de 80 unidades espalhadas pelo estado de São Paulo a USP tem, de acordo com o anuário de 2018, mais de 18 mil funcionários. Apesar de grande parte deles estarem envolvidos no ensino, pesquisa e extensão, muito esforço é necessário pelos funcionários da administração e terceirizados para manter tudo em ordem na extensa estrutura da Universidade.

Noé de Moraes Lima, mais conhecido por Maranhão — o prestador de serviços gerais nasceu na cidade maranhense de São Mateus — é um dos exemplos da polivalência física de muitos dos que mantêm o campus central funcionando. 

Em uma manhã chuvosa e fria, ele operava tranquilamente seu assoprador de folhas, ao passo que seus companheiros manipulavam um aparador de grama cuja velocidade do fio podia chegar aos 580 km/h. 

“Faço de tudo: eu podo, corto árvore, trabalho com motosserra… minha rotina de segunda a sexta é essa”, explica Maranhão. Com a motosserra, ele chega a cortar galhos a 30 metros de altura — equivalente a um prédio de três andares ou três vezes a altura do trampolim mais alto usado nas competições de saltos ornamentais. É tão alto que há normas específicas de treinamento para uso equipamento de segurança especiais para a operação no topo das árvores.

O cálculo do esforço físico usa a unidade de gasto de energia chamada MET (equivalente metabólico da tarefa). De acordo com o Departamento de Saúde dos EUA, um jogo de basquete ou futebol gira em torno de 6 METs. Atividades como a de Maranhão podem chegar 7 METs, sem que o funcionário tenha todos os preparativos e cuidados médicos de um atleta de alto nível.

Perto de Maranhão, o chuvisco não atrapalhava o trabalho de Antônio Bispo. Mesmo aos 49 anos, o mestre de obras demonstrava porte musculoso e uma breve análise do seu material de trabalho, usado na reforma das quadras do CEPE, explica sua forma física. “A gente recebe a manta asfáltica em barris de 200 litros. Depois temos que virá-los na betoneira e bombeamos o material para a quadra”, detalha. 

Dada a densidade do material, o barril, 40 litros maior que um barril de petróleo, pode chegar a 300 kg. Vários barris são carregados por Antônio e um companheiro durante o dia. Para se ter uma ideia do esforço, o gergioano Lasha Talakhadze levantou 258 kg em sua barra para conquistar o ouro na categoria mais disputada do levantamento de peso nos Jogos Olímpicos de 2016.

Acostumados ao trabalho braçal, os homens não se queixam do esforço: “A gente rola os barris até a betoneira, então é tranquilo”, diz, modesto, Bispo.