Passei, e agora?

Estudantes relatam a experiência de conciliar graduação e empregos

Por Carolina Fioratti

Rotina de muitos estudantes inclui pegar mais ônibus lotados do que quem só estuda. Crédito: Susana Berbert

“Sugiro que vocês repensem a grade curricular e horária a partir do terceiro ou quarto ano para que quem precisa estagiar tenha tempo para isso”, reivindicou Inês Santos, estudante de Engenharia Ambiental na Escola Politécnica, em seu texto lido durante reunião da Coordenação de Curso (CoC). A aluna, assim como vários outros universitários, encontrou dificuldades em conciliar seus estudos com um emprego: a carga horária de seu curso, contando com aulas integrais, prejudica estudantes de baixa renda que lutam por permanência. 

A estudante lembra ainda que a USP caminha em busca de inclusão, visando receber 50% de alunos cotistas a partir de 2021. É necessário que os cursos se adaptem à nova realidade. Felipe Ricardo, graduando em Marketing na EACH, conta que desde o primeiro semestre deparam-se com um grande número de capítulos de livros para serem lidos e apresentados em apenas uma aula. 

Devido a isso, Felipe trancou desde matérias obrigatórias, até um semestre completo. “Ouvimos muito os professores dizendo que eles não têm a obrigação de compreender nossos empregos e ‘aliviar’ a dinâmica e carga das disciplinas, só que fica incômodo, grande parte das vezes, por aqueles que necessitam trabalhar por questões de sobrevivência ou até mesmo para aprender na prática as teorias que vemos em sala.”

Karen Hitomi, que faz licenciatura em Geociências e Educação Ambiental no IGC, relata que ingressou no período noturno da faculdade trabalhando como CLT em shopping. Assim como Felipe, também tranca matérias ou assume menos créditos para evitar a exaustão. 

Apesar de não se sentir prejudicada por compreender suas necessidades, a jovem diz que “têm muitos professores que não entendem que as pessoas trabalham oito horas por dia. Muitas coisas eu deixo de entregar por não conseguir fazer em razão do tempo”.

Ao tentar entrar em contato com a secretaria de graduação da Universidade, foi informado que não há ações institucionais voltadas aos cursos, pois essas são responsabilidade direta das Unidades de Ensino, as quais possuem plena autonomia. Do ponto de vista institucional, a USP investe em permanência estudantil oferecendo bolsas e auxílios a estudantes com necessidades socioeconômicas.